Estamos à espera de uma diva que interceda por nós?

Uma reflexão sobre os ícones pops que a comunidade LGBTQIAP+ insiste em criar e se decepcionar

Legenda: É impossível lutar pela comunidade LGBTQIAP+ e se aliar a quem quer nos aniquilar
Foto: Divulgação

Sempre que a comunidade LGBTQIAP+ se decepciona com algum ícone, sinto que permanecemos à espera de uma grande heroína, alguém que levante a nossa bandeira colorida e nos garanta a sensação de não estarmos sós. Parece que precisamos sempre de uma diva pop, uma musa da causa, uma mãe que interceda por nós, uma mártir que nos defenda dos vilões homofóbicos.

Que perigo! Quanta responsabilidade jogamos em cima de uma pessoa. Na verdade, na grande maioria das vezes, nós mesmos que criamos, enaltecemos e tornamos famosas certas figuras em nome de uma música chiclete ou um meme engraçado. Isso não nos torna culpados, afinal, essas relações não são unilaterais. Retribuem nosso engajamento, nos fazem acreditar em alianças e se aproveitam da nossa fanbase.

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É mais do que comprovado o poder de compra das nossas mãos, a força do nosso dinheiro rosa. Uma pesquisa da Associação Internacional Out Now Leadership aponta que nós, LGBTQIAP+, representamos 7% do PIB brasileiro. Por isso, mais do que nunca é preciso um refinamento no olhar para perceber o que é apoio e o que é apenas aproveitamento mercadológico.

Os novos tempos exigem que as empresas e figuras públicas se alinhem a causas sociais, que se tornem cada vez mais plurais, inclusivas e representativas. A palavra de ordem é diversidade e, em nome do dinheiro, parece valer muito a pena se vestir com nossas cores, brotar em paradas e lançar músicas feitas exclusivamente para nós.

Contudo, existem valores que são inegociáveis. É impossível lutar pela comunidade LGBTQIAP+ e se aliar a quem quer nos aniquilar. O que não é real, nunca dura muito tempo. Então, o que fica agora, além de um gosto amargo de quem sente que foi traído, é a reflexão sobre em quem apostamos, quem pode ser considerado um representante das nossas lutas, quem merece nosso dinheiro de fato, e também o nosso voto. Nas próximas eleições, tenhamos cuidado e votemos com consciência, porque o próximo “que tiro foi esse?” pode ser de representante da bancada da bala e da bíblia.

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