Neste 24 de março, completam-se 180 anos do nascimento de Cícero Romão Batista. É lamentável que, nesta efeméride, o principal acervo secular dedicado ao sacerdote esteja fechado.
Inspirado no memorial do presidente Juscelino Kubitschek, o do Padim foi inaugurado no final da década de 1980. Tornou-se um dos museus mais visitados do Nordeste. São milhões de pessoas na cidade num fluxo contínuo que transborda na área central durante as romarias de fevereiro, setembro e novembro.
E é justamente aí onde fica o prédio. O Memorial Padre Cícero está localizado no largo do Socorro. É vizinho de frente da capela que abriga o túmulo do santo popular. Por isso também virou um ponto de peregrinação, apesar de ter sido feito com objetivo para além do religioso.
O espaço guarda a memória do sacerdote católico querido pelo povo que se tornou um político de feitos reconhecidos: emancipou e urbanizou o vilarejo que hoje é a principal cidade do interior do Ceará. O Memorial tem proposta diferente da dos museus religiosos: a Casa da Rua São José, onde ele morou, e o do Horto, ambos abertos e administrados pela Ordem Salesiana.
No acervo do Memorial, estão objetos que pertenceram ao fundador de Juazeiro do Norte e também uma biblioteca que era aberta ao público. Nela, estavam disponíveis obras de autores que se dedicaram a estudá-lo e, com autorização, era possível também ter acesso à coleção particular do sacerdote.
Porém, na última década, lembro-me mais do Memorial Padre Cícero fechado do que aberto. Selada em convênio entre Prefeitura e Governo Estadual, a obra iniciada em dezembro de 2022 está paralisada.
O Município atribui a interrupção à ausência de repasse de recursos por parte do Estado. Seria necessário investimento de R$ 1.506.426,40, referente aos serviços pendentes a serem executados.
Já a Superintendência de Obras Públicas do Ceará (SOP) informou que foi constatado, após fiscalização, que a obra estava em ritmo lento. E que a Prefeitura chegou a ser comunicada para regularização das pendências e ainda que segue em análise do órgão a prestação de contas apresentada pelo município.
Segundo a SOP, cabe à Prefeitura a responsabilidade pela contratação e execução dos serviços. Os repasses financeiros são realizados de acordo com a execução física da obra, mediante fiscalização do órgão estadual.
Em resposta, o município afirma que a empresa contratada está com 5 medições pendentes de pagamento, totalizando R$ 328.495,79 executados e não que teriam sido pagos.
Diante do impasse político, a atual direção do Memorial manteve uma exposição num centro comercial da cidade, que já saiu de cartaz. E agora levaria alguns objetos à Escola de Saberes Daniel Walker.
É o paliativo. Nada se compara em apreciar o acervo completo, que tem curiosidades como o canhão usado na Sedição de 1914 e os quadros pintados por Marcus Jussier, artista que sintetizou em tela as principais passagens em vida daquele que se tornou a maior referência humana do Cariri, cuja imagem é responsável pela visibilidade nacional e até internacional do município.