Dia 8 de Maio de 1945 a Europa declarava o fim da II Guerra Mundial no continente, era a derrota do Nazifascismo. Mussolini, morto, Hitler, morto, faltava o Japão, mas, Hirohito ainda resistia, mas, a hora era de festejar a libertação ocidental ante o mal nazista. O maior conflito da história chegava ao fim, e o Ceará vivia essa história intensamente. Mas o que nós tivemos a ver com um conflito de tamanha proporção?
Nós tivemos e temos um papel fundamental nas lutas contra o nazifascismo e o neonazismo e precisamos entender profundamente nosso papel em ambos os casos. Na segunda Guerra, o Ceará estava em plena rota atlântica.
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Fortaleza, a capital mais próxima da Europa, era, junto a Natal, fundamental para controlar o Atlântico Sul, relatórios dos EUA colocaram a curva do Nordeste como um dos pontos mais estratégicos e centrais logística do confronto, chegaram até mesmo a planejar a nossa invasão caso Vargas não se alinhasse a seus interesses, o clima de tensão crescia, vários setores da economia já sentiam o desabastecimento: a guerra se aproximava.
A ocupação fascista da França e do norte africano preocupava os aliados, se a Alemanha conquistasse a Inglaterra poderia usar o controle do Atlântico Sul para chegar à América. Os EUA insistiam em instalar bases militares para garantir a segurança do litoral brasileiro, não por nós, mas, por eles, havia indicações de que a América do Sul seria o caminho escolhido pelo nazismo para conquistar o continente.
Se houvesse a batalha pela América nós seríamos, provavelmente, o primeiro teatro de operações. O caminho da guerra passava por estas praias de verdes mares bravios.
Vargas cede as bases ao Tio Sam, Fortaleza e Natal, em resposta o Eixo ataca navios brasileiros e a Brasil entra na guerra. Os cinquenta mil soldados dos EUA aquartelados nas bases do Pici (do inglês P.C. – Posto de Comando) e Cocorote (do inglês Coco Route – Rota do Cocó) no Alto da Balança aumentaram a presença da guerra na cidade.
Os céus de Fortaleza se enchem com os aviões-patrulha à caça de submarinos alemães. A queda de um dirigível de patrulhamento na atual Av. Bezerra de Menezes era a “prova” que Fortaleza estava sob ataque, tomada de espiões: a guerra estava aqui.
Os ataques diretos acabaram não acontecendo, o Eixo foi derrotado, com ajuda do Brasil na Itália, antes de ameaçar diretamente nossas terras, a batalha em si não chegou, mas suas influências acabaram transformando a sociabilidade, hábitos e costumes.
No cotidiano do estado havia uma nova ordem do dia, entre tropas, filmes e canções nós nos americanizávamos, a Belle Époque foi substituída pelo American Way of Life. Mas o impacto que devemos buscar não está apenas nos comportamentos e anedotas que povoam a atuação dos soldados americanos na terra do sol. Nossa luta foi maior.
Em 1942, estudantes da faculdade de direito realizaram a “Semana antinazista” na capital e no interior pregando a “profunda aversão ao corolário fascista” Progressistas, silenciados pelo Estado Novo, puderam atacar “abertamente” o autoritarismo do Eixo.
A “passeata antinazista” realizada em Fortaleza reuniu estudantes, operários, sindicatos e populares. Até mesmo o famoso quebra-quebra de 1942, quando dois dias antes do Brasil declarar guerra ao eixo foram aberto conflito com o ataque a comércios alemães, italianos e japoneses foi um ato extremo, tresloucado e ruidoso de uma sanha antifascista que mesmo tendo acabado em xenofobia direta e feito vítimas inocentes começou como um entendimento de que cada cearense era responsável por lutar contra o Eixo.
Na frente da Faculdade de Direito do Ceará ainda está o Obelisco do Ceará ou Obelisco da Vitória, imponente na forma o monumento passa quase despercebido em seu sentido de demarcar a luta contra o discurso de ódio nazista, seu apelido à época era Stalingrado.
A homenagem à vitória soviética que marcou o início da derrocada do Eixo é representativa da combatividade dos “antifas” cearenses de outrora. Temos um dever de memória com essas lutas, marcos e ideias. O Nordeste é hoje fundamental à luta antifascista.
Como já ocorreu com judeus, ciganos e africanos, somos vítimas do discurso neonazista. Esses discursos operam com a categoria de raça, e desprezam os “mestiços”, não brancos, não “puros”, em um imaginário preconceituoso e racista que deprecia e diminui negros, indígenas e nortistas. Lembrar as nossas lutas do passado é alimentar o espírito para combater esse mal no presente.
A “Batalha pelo Nordeste” não trouxe apenas seus tecnologias e soldados, trouxe um sentimento de luta contra o fascismo. Fortaleza se levantou contra aqueles que pregavam o ódio. Nós comemoramos a saída dos pracinhas para luta na Itália, fizemos uma grande festa na praça do Ferreira quando o Eixo foi derrotado, mas, mais do que isso, lutamos coletivamente, entre erros e acertos, contra o ódio.
A história do Ceará na II guerra é um alerta do passado. O Brasil teve o maior partido Nazista fora da Alemanha, mais de dois mil brasileiros eram filiados ao Partido Nazista do Brasil, o fim da guerra não destruiu esses sentimentos, apenas o fez recuar aos esgotos, ávidos por um novo levante, agora com o crescimento do movimento neonazista, a terra da luz e do sol, que já se bateu contra a escravidão e o fascismo, precisava valorizar seu passado de luta.
Seja 1945, seja em 2023 o Nordeste tem fundamental centralidade na luta contra os velhos e os novos fascismos.