The Bear: veja três reflexões da nova temporada que nos fazem repensar as relações familiares

Terceira temporada da série exibida na Disney+ mergulha ainda mais a fundo nos dilemas dos personagens utilizando a cozinha como pano de fundo

Legenda: Carmy (Jeremy Allen White) e Richie (Ebon Moss-Bachrach) constroem uma das relações mais complexas de 'The Bear', onde o amor e a falta de compreensão parecem andar de mãos grudadas
Foto: reprodução/FX

'The Bear' está na categoria daquelas séries que se propõem a falar de algo específico, mas levam o espectador a mergulhar em questões mais profundas do que as vistas de relance. Não à toa, chegou à 3ª temporada sob expectativas elevadas, justamente por entregar sempre o acima do esperado, o incomum. Se esse é o sentimento de quem assiste, toda essa pressão parece, quase em um paralelo, como uma crescente vertiginosa entre os personagens da produção.

Acredite, esse é um texto para comentar a nova temporada da série, lançada no último dia 17 de julho no Brasil, pelo streaming Disney+. Ainda assim, é também uma forma de embarcar nessa proposta da própria trama, que fala sobre comida, cozinhas e restaurantes, mas quer mesmo é nos levar em uma jornada inconstante sobre as relações humanas. 

Veja o trailer da 3ª temporada de The Bear:

Até que ponto as relações familiares nos moldam e nos afetam? Esse, por exemplo, é um dos dilemas mais simples construídos entre os agentes dessa trama. Carmen Berzatto (Jeremy Allen White), Sydney Adamu (Ayo Edebiri), Richie (Ebon Moss-Bachrach) e os demais retornam às telas do streaming, dessa vez com a trama nos mostrando finalmente o lançamento do restaurante refinado, antes idealizado por Carmy, mas construído a muitas mãos.

Os três, assim como os outros personagens, carregam essa pergunta, assim como também faz o roteiro, levando os espectadores a reflexões tão importantes que beiram o autoconhecimento. Não seria exagero, inclusive, falar sobre a falta de fôlego deixada a cada fim de episódio.

Para quem já completou as três temporadas, esse pode ser um prato cheio para discutir os temas pincelados de forma minuciosa pela trama. Por conta disso, reunimos aqui três "relações" vistas por meio desses personagens e como elas nos levam a refletir sobre nós. Já te adianto: alguns spoilers podem surgir por aí, muito cuidado!

Mães e filhos: o que 'The Bear' nos propõe

Donna Berzatto, a mãe de Carmy, Michael (Jon Bernthal) and Natalie (Abby Eliott) não é nada palatável. Foi apresentada à audiência da série no sexto episódio da 2ª temporada, chamado 'Fishes', e retornou ao novo ano sob a mesma premissa: uma mulher tão envolvida nos próprios transtornos e vícios que impôs aos filhos a missão de serem os mediadores de uma família envolta no caos. 

Desde o início da série, sabemos bem que os irmãos Berzatto carregam esses traumas profundos. Tanto é assim que a história nos apresenta Mike apenas nas lembranças dos personagens vivos, nos contando por meio de flashes como o mais velho dos três acabou tirando a própria vida em meio a uma dura batalha contra o vício e a depressão. 

Donna Berzatto na 2ª temporada de The Bear
Legenda: Donna Berzatto é a mãe incomum, a que é tão mergulhada nos próprios dilemas e vontades que transforma a família em algo disfuncional e explosivo
Foto: reprodução/FX

Marcados pela dor da perda, Carmy e Nat vivem sob a ansiedade frequente do contato com a mãe. Ele se envolve na profissão ao ponto de quase se fundir com a própria cozinha, enquanto Nat sobra para segurar as pontas de uma família que só existe no nome.

Aqui cabe ressaltar o trabalho fenomenal de Jeremy Allen White e Abby Elliott. Os dois nos trazem a tristeza por meio dos olhares cabisbaixos de Carmy e Nat, enquanto um deles foge da mãe a todo custo e a outra quer a agradar não importa como. Donna, ou Deedee, como ela também é lembrada, é quase uma sombra nessa 3ª temporada, e só é chamada quando de fato não há outra opção.

A proposta talvez seja demonstrar como essa relação familiar mais profunda é transformadora. No caso deles, é negativa, sem dúvidas. Donna transferiu os dilemas dela aos filhos, se recusa a enxergar algo além de si mesma e os envolve em um ciclo vicioso de contenção de danos. 

A nova temporada até tenta nos fazer enxergar um nível de mudança, mas no fim, a sensação que permanece é a de que algumas coisas são como são, e nos cabe lidar com a parte que é nossa responsabilidade a partir daí.

Amor e impaciência na família

Sentimentos bons e ruins podem andar muito próximos em relações significativas. O esperado, claro, é que o lado bom prevaleça, mas não é incomum que as pessoas amadas nos toquem em lugares mais dolorosos, quando o mais desejado é simplesmente não lidar com absolutamente nada.

Carmy e Richie são a perfeita simetria disso. Desde o início nos são apresentados como primos muitos próximos, que já viveram muito juntos e se amam, acima de tudo. Apesar disso, se machucam reciprocamente com personalidades complicadas e egocêntricas, se conectando exatamente no ponto onde não conseguem lidar totalmente com a perda de Mike. 

Nessa 3ª temporada, então, qualquer conflito mínimo entre eles escala à máxima potência, deixando o espectador quase sem ar e impaciente ao ter que ouvir tanta gritaria e impropérios. Os dois repetem abertamente que se amam, mas não conseguem deixar as diferenças de lado para realmente trabalhar a empatia necessária de um com o outro. O resultado é uma relação desgastada ao extremo.

Carmy em The Bear
Legenda: Os Faks, inclusive, surgem como um contrapeso. São parte da família de Carmy, mas representam a leveza que falta aos irmãos Berzatto
Foto: reprodução/FX

Pode ser assim também entre pessoas queridas, sabemos bem. Ao acreditar que o amor prevalece acima de tudo, nos colocamos como capazes de machucar, pensando na possibilidade de pedir desculpas e esquecer o que há de pior. Nem sempre, entretanto, isso funciona na vida real, assim como não tem sido eficiente com eles em 'The Bear'.

Ansiedade é coisa séria

E talvez não exista um personagem sequer em 'The Bear' que não tenha demonstrado o mínimo de ansiedade em cena. Carmy se destaca, assim como Sydney (Ayo Edebiri), mas os dois demonstram de formas diferentes. Enquanto ele usa a perfeição para lidar com ansiedade, buscando a excelência a tudo custo, Syd demonstra a ânsia pelo crescimento na carreira e uma angústia por não fazer sempre mais. 

Os sentimentos dele acabam soando mais complexos, já que Carmy abdica de todas as boas sensações em nome da perfeição na cozinha. Não há relacionamento, amizade ou laço familiar que esteja à frente da necessidade dele de se provar útil, desejo esse que vem cercado de medo, desespero por aprovação e até a raiva exacerbada de tudo que seja capaz de impedi-lo nessa busca. 

Carmen e Sydney na cozinha
Legenda: A relação de Carmen e Sydney ficou estagnada na 3ª temporada, justamente por conta dos dilemas individuais de cada personagem
Foto: reprodução/FX

Uma busca incessante, sufocante. Carmy até tenta lidar com o vício em álcool, para de fumar, mas não consegue procurar ajuda para tratar a própria ansiedade. Assim sendo, negligencia o mal que faz a si e aos que porventura o encontrem em um dia ruim.

Já Sydney também põe a carreira como chef à frente e está sempre imensamente preocupada com o futuro. Para ela, o agora dita o que virá e precisa ser resolvido de forma urgente, com muita pressa para demonstrar do que ela é capaz.

Nessa 3ª temporada, a relação dos dois parece até bastante fora do tom. O que talvez fique bem claro para o espectador é a necessidade dos dois personagens de amadurecem os próprios sentimentos e reforçarem a amizade que lá na 1ª temporada parecia ser o mais importante para o sucesso de ambos e do 'The Bear'. Uma história que, certamente, tem muito para desenrolar, inclusive mostrando como os dois podem aprender a lidar com os próprios sentimentos

Quando estreia a 4ª temporada de 'The Bear'?

Até o momento, a 4ª temporada de 'The Bear' ('O Urso') não teve data de lançamento confirmada mundialmente. A expectativa é de que os novos episódios só sejam lançados em 2025.



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