Viver do que realmente importa depois da perda

Tenho compartilhado nas minhas redes sociais da dor de perder meu cachorrinho. Eu confesso que não pensei que doeria tanto. Fora minha mãe, foi seguramente o ser que conviveu mais tempo comigo assim, tão próximo. Pior de tudo é encarar o vazio que fica no lugar que ele ocupava.

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Passados os primeiros dias daquela dor que nada consola, vem a lembrança do quanto as coisas são efêmeras. Sabemos disso, desde sempre, mas essas coisas – a perda, a morte de uma pessoa, relação ou do que seja - nos fazem lembrar disso de uma maneira mais forte.

Uma maneira de consolo ou talvez de lição do acontecido. Lembro do trecho de um diálogo de Gênio indomável: “Você terá muitos momentos ruins, mas eles sempre vão te acordar para as coisas boas que você não estava prestando atenção.”

Pena que dura pouco. A dor, essa dura. Viver do que realmente importa depois da perda, isso não dura. Ontem mesmo, no provador de uma loja, experimentando umas roupas pra uma campanha, detestei meu corpo. Muitas luzes no provador. Saí triste da loja, sem vontade de comprar nada – só o que desse pra esconder o que não gostei. A tristeza ali tomou um espaço muito maior do que deveria tomar.

Sendo bem piegas, que espaço tão grande é esse que me fez esquecer o quão essa vida é boa e efêmera? Esquecer o que lembrei com a ida do meu companheiro? As pequenas coisas vão nos tomando e esquecemos essas coisas boas que não prestamos atenção.

Só o que espero é que esses momentos ruins treinem meu olhar pra que eu tenha os olhos atentos pras coisas boas e que de fato valem a pena tomar um grande espaço aqui dentro.

Termino esse texto com otimismo não aquele de não me permitir a tristeza que sempre, por algum motivo, chegará, mas com o otimismo de não esquecer o que a gente leva dessa vida de fato, dentre tantas perdas. Aquele otimismo de Ariano Suassuna de que “a tarefa de viver é dura mas fascinante.”.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.