Por onde ando na minha casa tem bolinhas de plástico – daquelas de piscina de bolinhas. Comprei semana passada pra colocar na piscininha que a Manuela ganhou. Bem que me avisaram que teria bolinha por toda parte em poucos dias. Arya, a cachorra, gostou até mais que a Manuela.
Não vou usar o fato de ter filha e cachorro pra justificar a bagunça da minha casa. Antes mesmo da Manuela ter força na mãozinha de pegar algo, já existia alguma bagunça. E esse texto, em nenhum momento, tenta justificar qualquer bagunça. Esse texto, hoje, não tenta nada.
Apenas me fez pensar que tenho uma quedinha por bolinhas de plástico espalhadas pela casa. Me dão uma sensação de vida, de que alguém passou por ali. Tem um ponto amarelo embaixo do rack, um ponto vermelho no banheiro. A do rack a Manuela jogou, foi muito longe e ela não engatinhou até lá, ficou. E a do banheiro foi a Arya e depois ela esqueceu.
Falando nas bolinhas, a bandeja da cadeirinha de alimentação não é mais branca – e só começamos a usar há 2 meses – o mamão manchou, tá amarelada. Algumas vezes, não deu tempo limpar imediatamente quando ela comeu. Tive que dar banho nela logo depois de comer e brincar com ela em um dia que ela não queria ficar só enquanto eu limpava. A cadeirinha segue excelente mas manchada.
Uma mancha de quem não consegue fazer tudo, de quem decidiu escolher suas batalhas quando está só porque não dá pra fazer tudo.
Não dá pra catar bolinhas todo dia ou limpar imediatamente a cadeira de alimentação. Porque quando não dá pra fazer tudo, entre as duas coisas, escolho jogar as bolinhas pra Arya ou cortar uma Pitaya pra Nenela pra gente ficar cor de rosa.
Preciso arrumar a casa, mas, puxando brasa pra minha sardinha, pra mim, existe alguma poesia nesse tipo de bagunça, como se fossem sinal de vida, de alguém por ali, como se a casa pulsasse o tempo inteiro. Já guardamos as bolinhas, ontem, antes de dormir e já espalhamos mais hoje.
Não porque queremos que elas fiquem espalhadas ou porque preferimos uma cadeira manchada, mas porque aconteceram por consequência do maternar, das experiências que um dia não caberão mais entre nós duas. E que aconteceram por consequência do próprio viver em seu mais literal significado.