É um pouco solitário ser mãe

Foto: Shutterstock

Minha maternidade me remete sempre a uma canção:

“Terezinha de Jesus/ Deu uma queda foi ao chão/ Acudiram três cavalheiros/ Todos de chapéu na mão

O primeiro foi seu pai/ O segundo seu irmão/ O terceiro foi aquele/ Que a Tereza deu a mão”

Perdi as contas de quantas vezes canto essa música, justamente essa parte, repetidas vezes, enquanto coloco Manuela pra dormir.

Eu não sei até hoje o que aconteceu com a Terezinha. Eu cantei essa canção tantas vezes que tive tempo de sobra pra pensar em tantas coisas, inclusive no que aconteceu com ela – porque eu não sei o resto da música. Apenas essa parte.

O total escuro do quarto da Manuela quando tô colocando ela pra dormir e somente canto, me deu essas oportunidades. Várias vezes canto rápido, no automático porque sei que ela se acostumou a dormir com essa música e eu tô pensando no que tenho que fazer e só quero que ela durma.

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Outras vezes canto com ternura e profundamente, quase como se tivesse sentindo a dor da Terezinha ao cair no chão pra eu deixar meu pensamento só ali, naquele momento. Me parece que assim, o tempo passa e a gente mal vê. Como se a Manuela fosse dormir e sonhar com a Terezinha.

Outras penso na letra. Imagino como os três cavalheiros são, como ela é, a Terezinha. E quantas vezes, na minha história, ela cai porque repito a música várias vezes pela demora da Manuela dormir.

Às vezes não aguento mais pensar e cantar sobre a Terezinha.

Eu sei que posso ver no google o resto da letra. Mas prefiro ter a Terezinha na minha imaginação pra me acompanhar nos momentos angustiantes de escuro do quarto colocando, hoje, 10 quilos pra dormir ou cantar sobre a Tereza olhando nos olhinhos da Manuela como se o tempo – a vida – fosse passar tão rápido que já já a história da Terezinha vai ser mais interessante pra ela.

A solidão da maternidade... Essa que mesmo cheia de gente, a gente sente. E não falo dela, hoje, especificamente, no sentido ruim. Mas no sentido real mesmo. Porque é um pouco solitário mesmo ser mãe porque é como se ninguém sentisse como a gente, é como se a gente sentisse diferente, unicamente. Por mais que nos amem, por mais que amem nossos filhos. É como se a alegria e a dor fossem únicas e por isso essa “solidão”.

Fiz da Terezinha uma história que vai virar lembrança um dia quando a solidão materna diminuir, se é que ela diminui.

Fui em muitos lugares em meus pensamentos cantando a música da Terezinha durante tantas noites, num silêncio do quarto quase insuportável pra ela me acompanhar. Fui longe em algum lugar onde queria estar, fugida no meu puerpério. E também já fiquei muito ali, naquele quarto, com a maior felicidade do mundo, sentindo o cheiro da Manuela explicando que três cavalheiros ajudaram a Terezinha a levantar.

Só quem sabe os pensamentos de uma mãe vai entender em quantos lugares podemos ir mesmo estando no mesmo, na rotina, todos os dias, com nossos bebês. Que todas as mães, durante tantos momentos até solitários da maternidade, possam ter em si, além da Terezinha, boas companheiras.

Feliz dia das mães. Hoje e em todas as noites de solidão.

 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora