A retomada

Legenda: Vim viver uma parte de mim de volta. A parte que ouvia música no fone enquanto esperava o trabalho voltar depois do almoço
Foto: FTiare/ Shutterstock

Dia desses eu não queria voltar pra minha vida. Preferi ficar no meu novo lugar sendo uma extensão do que a vida de mãe me deu.  Não tinha muita vontade de fazer muita coisa. A vida era boa, muito boa. Mas estava agora atrelada a algo - tão precioso - em todos os seus aspectos e momentos. 

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Muitas conversas com a psicóloga. É como se minha vida fosse dividida entre antes e depois do casamento. Você sabem, o casamento me trouxe uma mudança de cidade aos 32 anos. Digamos que adaptação não é o mais fácil da situação. 

E ai aconteceu. Depois te ter me recusado a viver a própria vida e vários trabalhos, finalmente a aceitei de volta. Fui convidada a fazer um trabalho, carreguei a Manuela comigo e aceitei. Proposta irrecusável. E vim.

Vim viver uma parte de mim de volta. A parte que ouvia música no fone enquanto esperava o trabalho voltar depois do almoço, a parte que ria de algo que não fosse somente os momentos deliciosos com minha filha. Apenas ri. Sem vinculo com nada que construí. Ri de coisas novas, besteiras novas, pessoas que nunca vi. 

Uma Mila mãe apegada, saudosa mas a Mila. Aqui, no fone de ouvido uma música de quando era Mila. Eu vejo uma criança que me lembra a Nenela, eu escuto uma música que lembra algo meu. Uma Mila mas melhor dividida. 

Noticio aqui que não existe mais uma vida como antes depois que se tem filhos e a própria vida, mesmo sendo, naquele momento sua, sempre está atrelada a algo mais. E isso é bom. Juro.

Mas aprendi que dá pra viver o que precisamos pra viver por nós mesmas. 

Como criei coragem? Não lembro de ter planejado. Lembro claramente de ter sentido falta, de estar querendo esse resgate há anos e que, convenhamos, até mesmo sem necessidade as vezes utilizamos filho, casamento e o que seja como bóias pra falta de coragem de voltar a amar ser quem é. 

Estou apenas tentando me acostumar a voltar a ser eu dentre milhões de raízes que foram sendo criados em mim. O eu: uma das mais importantes gavetas dessa cômoda chamada “nós”. 

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Mesmo sabendo que, nada do passado, isoladamente, me faria tão feliz quanto agora como com o meu “nós”, Finalmente abri a gaveta e senti a sensação de voltar a ter uma vida também Mila e não somente “nossa”. 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.