100 anos de Brasil em Olimpíadas: caminho de evolução, mas ainda longe de chegar perto das potências

Em um século de participações no maior evento esportivo do mundo, o Brasil vem acumulando conquistas, mas ainda tem muito a crescer para figurar entre os principais países competidores

A próxima edição das Olimpíadas gera boas expectativas de medalhas entre os brasileiros. A inserção de novas modalidades, como surf e skate, pode levar o país a ampliar a quantidade de medalhas conquistadas, em relação ao resultado do Rio, em 2016. Em casa, o Brasil chegou ao melhor resultado da história, com sete ouros, seis pratas e seis bronzes, 19 pódios e a 13ª posição no quadro de medalhas. Apesar do resultado positivo, o país está longe de ser uma potência e vem trilhando um longo caminho em disputas olímpicas, que no último dia 2 completou 100 anos.

Como será em Tóquio, a edição de 1920 dos Jogos, na Antuérpia, aconteceu após um período histórico conturbado. De 1914 a 1918, a Primeira Guerra Mundial deixou um saldo de 10 milhões de mortos. Entre 1918 e 1920, assim como hoje, o cenário era de pandemia, a maior do século 20. A gripe espanhola matou 35 mil pessoas no Brasil e cerca de 50 milhões no mundo.

A primeira edição com participação brasileira já trouxe ao país três medalhas. A delegação, que contava com apenas 21 atletas da natação, polo aquático, remo, saltos ornamentais e tiro teve que ter muito espírito esportivo e persistência para representar o Brasil após viagem em uma embarcação sem grande estrutura. O percurso teve que ser finalizado por vias terrestres, caso contrário, o grupo de atiradores só chegaria à Bélgica, após o início das disputas do tiro. Para completar, eles foram assaltados na chegada, ficando sem boa parte do material de armas, munições e alvos.

Apesar de todos os contratempos, o grupo contou com o auxílio em equipamentos da delegação dos Estados Unidos. O resultado foi muito além do esperado e, em 2 de agosto de 1920,  Afrânio da Costa ganhava a primeira medalha olímpica do Brasil.

equipe brasileira nas Olimpíadas de 1920
Legenda: Guilherme Paraense (2º da esq. para a dir.) e Afrânio da Costa (ao lado) com a equipe brasileira nas Olimpíadas de 1920

No mesmo dia, veio a medalha de bronze por equipes na pistola livre com Afrânio da Costa, Guilherme Paraense, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade. E Guilherme Paraense, um dia depois, conquistou o primeiro ouro, no revólver calibre 38.

A história das medalhas brasileiras começou aí, mas depois da edição da Bélgica, veio um grande hiato sem ouro para o país. O lugar mais alto do pódio só retornou em Helsinque, na Finlândia, 1952, quando despontou a lenda do atletismo, Adhemar Ferreira da Silva, primeiro bicampeão olímpico nacional, conquistando o ouro no salto triplo também, em Melborne,1956. Depois, mais um longo período sem ouro, foram 24 anos até as conquistas no iatismo de Lars Björkström e Alexandre Welter (Classe Tornado) e Marcos Soares e Eduardo Penido (Classe 470).

A partir daí, apenas em Sydney (2000) não houve medalha de ouro para o Brasil, mas o caminho oscilante do país persistiu, sempre figurando em um segundo pelotão no quadro de medalhas. As dificuldades enfrentadas pelos atletas durante o ciclo preparatório para as Olimpíadas são muitas, a falta de patrocínio está entre elas. Muitas modalidades, longe dos holofotes, contam com a persistência dos atletas para ganhar representatividade na maior disputa esportiva.

Sediar os Jogos elevou o Brasil a outro patamar, atingindo um investimento de R$ 3,8 bilhões. Apesar de todo esse valor, o resultado em medalhas não foi tão exorbitante: 19,  duas a mais que as 17 conquistadas em Londres. O último ciclo olímpico vem numa decrescente e o montante deve chegar a R$ 2 bilhões. Além da queda nos investimentos, outros problemas atrasam o país a ser de fato uma potência olímpica. Algumas modalidades promissoras passam por fase de transição, como é o caso da bicampeã olímpica seleção feminina de vôlei.

Olimpíadas no Rio, em 2016.
Legenda: Espetáculo durante as Olimpíadas no Rio, em 2016.

Em 100 anos, o mundo passou por muitas transformações. O próprio esporte não é nem de perto aquilo que representava há um século. O profissionalismo dos atletas evoluiu e as condições também. Mas uma potência esportiva se constrói a partir de mudanças que vão além das quadras, campos, tatames ou piscinas, na sociedade. Não vai ser em Tóquio, no próximo ano e nem em Paris, 2024. Mas quem sabe nos próximos 100 anos de evolução olímpica, o Brasil figure entre os grandes, não apenas na conquista de pódios, mas em tudo que o esporte, quando levado a sério, pode gerar de benefícios para a população.