Sendo rua, medalha ou compositor, Lauro Maia segue como ícone do carnaval fortalezense

Compositor cearense nascido no século XIX foi um dos primeiros compositores de marchinhas de Fortaleza, e décadas depois, seguiu sendo passarela para foliões, agora como rua

"Tá proibido o Carnaval nesse país Tropical”, esse foi o título de uma música lançada por Caetano Veloso e Daniella Mercury no ano de 2018. A letra que tinha conotação de protesto político, nesse 2021 se tornou ainda mais atual com o cancelamento da festa devido a pandemia da Covid-19, que tem se agravado nas últimas semanas. 

Mesmo diante a proibição, relembrar o carnaval é rememorar as origens deste país, que fez do feriado sua marca registrada. Algumas cidades como Recife, Olinda, Salvador e Rio de Janeiro, são marcos de foliões na data e, claro, se destacam como locais carnavalescos. Mas e Fortaleza?

Muito se engana quem pensa que o nosso estado não possui carnaval, a festa jamais poderia se deixar esquecer pelos fortalezenses que também amam os frevos, batuques, sambas e marchinhas.

Minhas primeiras lembranças de carnaval (na plenitude da palavra) foi na primeira infância em uma rua que depois vim achar a poesia de sua existência. Digo isso pois seu nome consagra no espaço e tempo da cidade uma de suas figuras mais ilustres, o cearense Lauro Maia.

Lauro Maia
Legenda: Lauro Maia se tornou um dos principais nomes da música carnavalesca cearense, tendo sucessos gravados por Nelson Gonçalves e Orlando Silva
Foto: Arquivo Nirez

A via que no fim da década de 1990 e início dos anos 2000, ostentava um de seus mais tradicionais pré-carnavais, também resgataria uma parte da história da capital cearense. Digo isso, pois Lauro Maia foi um dos principais compositores carnavalescos da primeira metade do século XX. Aliás, assim como Luiz Assunção, ele pode ser visto como um dos patronos da música deste estado.

O carnaval fez renascer o nome: Lauro Maia

Lauro Maia Teles nasceu na Fortaleza de 1912, cursou direito, foi funcionário de Viação de Obras Públicas do Estado do Ceará, mas seu grande amor seria a música. Iniciou sua carreira na década de 1930, compôs ainda na capital valsas e ranchos, mas que se tornaram sucesso somente após a ida do instrumentista para o Rio de Janeiro.

Mesmo sendo de uma escola Jazzística, o cearense ousou e foi das marchinhas ao baião. Por sinal, recusando um convite para compor junto Luiz Gonzaga, sugerindo como substituto, seu cunhado. Lauro, foi responsável então por uma das principais parcerias da música popular deste país: Gonzagão e Humberto Teixeira.

Tendo vida curta, faleceu aos 37 anos vítima da epidemia da tuberculose, Lauro Maia lançou inúmeras canções, principalmente carnavalescas, dentre elas “Trem de Ferro”, “Bate com o Pé no Chão”, “Eu vou até amanhã” e “Fan Ran Fun Fan”. Ainda assim, sua obra não foi tão ouvida na cidade como seu imponente nome.

Digo isso pois algumas décadas depois, Lauro Maia viria a ser nome de uma larga rua no Bairro de Fátima, mesma via que em 1962 iria ser montado um mercadinho que marcaria a história boêmia da cidade. Próximo ao estabelecimento moravam dois jovens ilustres chamados Ednardo e Fagner. O segundo, principalmente, virou assíduo frequentador do local, até que este virou um bar. 

Hoje considerado “museu orgânico da cidade”, o Point Lauro Maia, ou popularmente conhecido como “Bar do Vaval”, apelido do Seu Olivar, proprietário do local, até hoje é um reduto de artistas levados pelo próprio Raimundo, que lá pode respirar tranquilo longe dos holofotes.

Todo esse entusiasmo ganhou as ruas durante mais dez anos no último sábado antes do carnaval.  O “Pré da Lauro Maia interditava a rua da Arthur Timóteo até Cel Pergentino Maia, para que foliões tivessem direito de pular e brincar com muito confete e serpentina.

O nome Lauro Maia é tão forte dentro do Carnaval de Fortaleza que também virou medalha. Honraria criada em 1993 pela Câmara Municipal da cidade para condecorar notáveis da música cearense.

A folia agora fica na memória 

Seja como medalha ou rua, Lauro Maia continua presente no cotidiano dessas terras alencarinas. O compositor que foi cantado por astros da sua geração, permanece esquecido quanto artista, mas lembrado dentro da sua imagem icônica da cultura popular. Sua história segue sendo revivida dentro de cada bloco de rua que deseja gritar seu sonho de liberdade.

Mais do que nunca, o compositor é uma lembrança, assim como o próprio carnaval castrado pelo contágio do vírus da Covid-19. Saudar aqueles foliões que já fomos em anos anteriores, é uma forma de recriar a esperança de novos tempos que hão de vir, e a vacina da alegria tem confete, serpentina e muito glitter.

Seja nos Pinhões, Mocinha, Gentilândia, Iracema ou na própria R. Lauro Maia, em um tempo não muito longe, sonhamos em botar nosso bloco novamente na avenida, com beijos, abraços e sorrisos. Enquanto isso, é ficar em casa, com todos os cuidados, e cultivar os desejos e as memórias para quando o carnaval chegar !