“Meu Mel” já era Hit do cearense Markinhos Moura na década de 1980

Música regravada por Zé Vaqueiro e Xand Avião, foi lançada por Markinhos há mais de três décadas e volta agora para relembrar o cearense

Legenda: Markinhos Moura foi o primeiro a lançar o hit "Meu mel"
Foto: Divulgação

Tem músicas que conseguem se perpetuar na memória do público de forma inexplicável. Muitas delas, inclusive, são regravadas por várias vozes e retornam anos depois de seus lançamentos como “hinos atemporais”. Exemplo disso é a música “Evidências” de José Augusto e Paulo Sérgio Valle e conhecida na voz da dupla Chitãozinho E Xororó.

Para a minha surpresa, ouvi na rádio os cantores Zé Vaqueiro e Xand Avião cantarem juntos “Meu Mel”, um dos grandes “hits” das paradas de sucesso nos anos de 1980. A canção doce ficou até com uma nova roupagem interessante, porém longe ainda da aura de sua primeira interpretação, a do sempre querido Markinhos Moura.

O cantor cearense lançou a faixa no ano de 1987, após já vários discos gravados e carreira musical em andamento. Aquele pedido quase em tom de chantagem “fica comigo, meu mel” ganhou o Brasil e até hoje é o cargo forte do artista, mesmo que outros a tenham gravado.

“Por onde anda Markinhos Moura?”, foi a pergunta que me fiz ao saber que seu mel estava em outras bocas. Felizmente, mesmo que ainda afastado da grande mídia, encontrei o cearense atuante em suas redes sociais e nas plataformas de streams. Empolgado, o convidei para uma conversa por telefone e fui prontamente atendido.

Em um papo descontraído, o eterno menino Marcus Antonio Sampaio Moura falou sobre os rumos de sua carreira, projetos atuais, lembranças da adolescência, ídolos e opiniões. Mais uma vez, o fortalezense se mostrou ciente da sua trajetória e da responsabilidade de ser artista.

Nem tudo foi mel

Ser um representante da arte será sempre difícil enquanto o país não valorizar a cultura, muitos vão além do saber disso e sentem na pele essa dor. Markinhos foi um desses, desde muito cedo foi castrado de tal vontade dentro da sua própria casa, a não ser pela avó, no qual o cantor é eternamente grato. Ainda diante tal rigidez, os caminhos daquela alma inquieta não poderia ser outra, os palcos.

Praticamente garoto começou a participar de programas de calouros da capital cearense, como o dos saudosos apresentadores Irapuan Lima e Augusto Borges. Tal talento o levou também ao teatro universitário, na minha visão ponto fundamental para a construção da personificação do artista.

“Sou muito grato ao Fernando Neri e Eurico Bivar, foram os primeiros compositores que interpretei e foram fundamentais no meu início e na minha vida”, rememorou Markinhos. As referências na rádio também foram fundamentais nesse processo, seu ouvido era atento para inspirações como Ângela Maria, Moacyr Franco, Cauby Peixoto e Agnaldo Timóteo.

Aos poucos, mesclando música e teatro, rádio e televisão, popular e sofisticado, o cearense foi moldando a voz e formando sua própria identidade. Dois cantores seriam fundamentais para essa formação, ninguém menos que Ney Matogrosso e Elis Regina.

“Elis era o dia inteiro e fui adotando na minha voz, o Ney(Matogrosso) também era demais, só que com ele tinha de ser escondido, era muito preconceito. Meu pai me perguntava se eu não queria estudar?”
Markinhos Moura
Cantor

Dentro de tanta opressão, o relacionamento familiar ficou muito delicado e dentro desse cenário foi motivo do cantor passar sete anos distante da sua terra natal, voltando apenas após o estouro de “Meu Mel” e provando que havia vencido esse e outros obstáculos. 

É necessário palco para se viver

Entre altos e baixos, Markinhos Moura construiu um nome sempre lembrado pelo público. Ele merecia sim uma maior atenção e alcançar outros palcos, inclusive na própria terra. “Eu sinto falta da Fortaleza que tocava tudo, Pessoal do Ceará, aqueles cantores todos que nos representavam, mas infelizmente a minha cidade foi onde eu menos cantei”, confessou com tristeza o artista.

Morando hoje em São Paulo, o intérprete hoje pertence à produtora cearense 4G, parceria que tem resultado em seus últimos trabalhos. Além disso, o cantor pode ser encontrado em seus canais na internet. O acesso pode fazer com que uma juventude se surpreenda com sua imagem tão singular e mega interessante.

Markinhos Capa de Disco
Legenda: Markinhos Moura em Capa de Disco na década de 1980
Foto: Reprodução

Conversar com Markinho foi um enorme prazer, assim como ter a alegria de o ter assistido ao lado da sua inspiração Angela Maria no Cineteatro São Luiz cantando “Esse cara” de Caetano Veloso. Como dizem os versos da música, o artista sabe consumir esse olhar do público, pena que muitos não notam isso.

Com o retorno de “Meu Mel”, é preciso reforçar que a música não nasceu agora e bem antes dos forrozeiros, já havia um cearense esbanjando doçura e leveza em sua interpretação. Esses dizeres servem não só para produtores e plateia, mas para os colegas artistas que deveriam rememorar mais o sempre atual Markinhos Moura.