O governador Camilo Santana tem dito considerar um 'erro' seu partido, o PT, investir para uma candidatura própria em Fortaleza isolado, sem buscar os aliados que formam a base do governo do Estado, entre eles o PDT. Até aqui, o partido tomou suas decisões na Capital sem levar em consideração as colocações de Camilo. Tudo com o aval da executiva nacional, que já tomou, inclusive, outras decisões no Ceará em contrário às articulações do governador, como já relatamos aqui nesta coluna.
Atualmente, Camilo Santana é o petista a ocupar o mais importante cargo eletivo no Ceará e, mais do que isso, saiu das urnas em 2018 com um resultado eleitoral expressivo, no momento em que o antipetismo significou uma força decisiva em âmbito nacional. A considerar o que houve até aqui, o governador parece não exercer liderança nenhuma dentro do partido e está chegando um momento de definição em que ou a articulação funciona ou o caminho deve ser a porta de saída.
Movimentações
Falta pouco menos de um mês para as convenções partidárias e este é o prazo em que será testada a capacidade do governador de demonstrar peso político dentro do partido e convencer lideranças internas para abraçar a sua tese, inclusive com os riscos que ela tenha. A tarefa não é fácil. No último domingo, nesta coluna, relatamos a importância de quarto partidos de peso para o cenário eleitoral da Capital que ainda estão com situação indefinida: MDB, DEM, PSDB e PSL. Acrescente-se, pois, a este grupo, o PT, cuja definição tem ganho contornos tão relevantes quanto a própria indicação do nome do PDT - ou da aliança governista - para a disputa da Prefeitura.
Variáveis
Há, no impasse, pelo menos duas questões relevantes. A primeira é em relação aos trunfos que o partido pode significar para a candidatura aliada. O PT tem tempo de TV, recursos do fundo eleitoral e, com Luizianne Lins, aparece com bom recall nas pesquisas de opinião. Ao que tudo indica, o nome governista, qualquer que seja, ao preço de hoje, começará a campanha talvez com não mais do que 2%. Vale lembrar: campanha totalmente atípica, de tiro curto e contra adversários fortes.
Artilharia
A segunda questão é igualmente forte, do ponto de vista simbólico. Sem Luizianne no páreo, o candidato governista terá a certeza de que a artilharia virada ao governismo terá uma base fixa: Capitão Wagner. Entretanto, com a ex-prefeita na disputa, as balas irão partir também das armas dela. A petista tem perfil para o embate e não vai abrir mão de fazer isso. O candidato governista, no entanto, ainda é uma incógnita.
Estratégia
Pelo contexto, a intervenção política do governador parece ser ainda mais importante para os planos do PDT, de Cid e Ciro Gomes, que já fizeram a leitura do cenário e acenam ao petismo. Sem o PT na disputa, é a saída de um adversário forte e a liberação de Camilo, que ficará livre para fazer campanha para o candidato governista já no primeiro turno. O momento é importante também, entretanto, para testar o nível da liderança política do governador dentro do próprio partido. Às vésperas de uma eleição polarizada, o fracasso da estratégia pode significar uma derrota do grupo o qual integra. Parece ainda mais claro que, se a articulação falhar, a única alternativa será a porta de saída.
Couro grosso
No cenário eleitoral de hoje na Capital, mais do que as características de liderança, capacidade administrativa e uma dose de carisma para enfrentar a campanha eleitoral, o candidato governista terá que ter "couro grosso", como se diz na gíria, para aguentar o tranco. Ele será alvo de muitas denúncias e acusações, o que exigirá capacidade discursiva e argumentativa para suportar e tentar vencer os debates que tendem a ter um nível acirradíssimo. A conferir.