Pesquisas conseguiram captar tendências confirmadas nas urnas em Fortaleza, diz diretor da Quaest

Em entrevista exclusiva, Felipe Nunes explica a metodologia e projeta segundo turno: vem briga boa

Legenda: O cientista político reforça que o objetivo da pesquisa não é prever resultado das urnas, mas sim dar ao eleitor um panorama sobre a opinião dos eleitores antes do pleito
Foto: Reprodução

Diretor do Instituto Quaest, contratado pela TV Verdes Mares para realizar as pesquisas de intenção de voto na eleição de 2024 em Fortaleza, Felipe Nunes aponta que os levantamentos conseguiram captar a tendência que acabou se confirmando nas urnas no último domingo.

Nos levantamentos divulgados pelo Instituto, André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) apresentavam tendência de crescimento, caminho inverso ao apresentado por Sarto (PDT) e Wagner (União), o que acabou se confirmando nas urnas.

Em entrevista a esta coluna, Felipe Nunes comenta o resultado da eleição em Fortaleza e fala sobre as metodologias das pesquisas para apontar a tendência da opinião dos eleitores. “Nosso objetivo não é prever os números ou o resultado eleitoral, mas sim dar um termômetro para o eleitor”, diz ele.

O cientista político explica ainda um detalhe da metodologia da pesquisa para calcular os votos válidos, que leva em conta a possibilidade de abstenção, ou seja, de o eleitor dizer que vota em um candidato, mas considerar não comparecer no dia da eleição.

Confira a entrevista completa:

Em Fortaleza, as pesquisas Quaest mostraram claramente duas tendências. Uma delas é o crescimento de André Fernandes, do PL, e de Evandro Leitão, do PT. Isso acabou se confirmando nas urnas. A outra era uma tendência de queda de Sarto e Capitão Wagner. Qual avaliação você faz desse cenário?

"Eu repeti no Brasil inteiro que pesquisa não é um prognóstico. Nosso objetivo não é prever os números ou o resultado eleitoral. A pesquisa é um termômetro que mede o clima político, a temperatura eleitoral, e foi exatamente isso que a Quaest fez neste primeiro turno. O Capitão Wagner começou a campanha muito conhecido, com potencial de voto alto, e, ao longo da disputa, nós observamos ele perder força a cada rodada da pesquisa, o que se intensificou na reta final. Ele acabou, inclusive, tendo menos votos do que estava registrado na última pesquisa.

A mesma coisa aconteceu com o prefeito (Sarto). O prefeito não conseguiu, em nenhum momento, estabelecer um padrão de voto que o colocasse como competitivo. As candidaturas de André Fernandes e Evandro Leitão, que no começo apareciam empatadas com os outros candidatos, tornaram-se as mais competitivas. Quanto mais clareza o eleitor tinha de que um (André) era o candidato de fato da direita, conservador, do movimento que existe no Brasil atualmente, ele se consolidava. E o Evandro Leitão era o candidato da esquerda, do grupo político do Camilo, do PT, e foi crescendo."

Dentro da última pesquisa, o André Fernandes, que terminou em primeiro lugar, aparecia com 33%. Na verdade, nas urnas, ele saiu com 40%. Você está considerando que as pesquisas acertaram. Qual sua visão em relação a isso?

"Se compararmos, em votos válidos, a pesquisa de 25 de setembro, André Fernandes tinha 29%, e, na outra (de 5 de outubro), foi para 33%, chegando a 40% nas urnas. Ou seja, era uma tendência realmente projetada de crescimento ao longo do tempo. Por que isso aconteceu? No último relatório, publicado no dia 5 de outubro, André Fernandes ainda tinha espaço para crescer entre o eleitor que votou no Bolsonaro em 2022. Ele vinha crescendo nesse segmento e melhorando seu desempenho. O debate da TV Verdes Mares/Globo teve um papel importante nesse caso, pela maneira como essas candidaturas se posicionaram em relação ao debate. Isso gerou um sprint final que deu a André Fernandes uma arrancada previsível. Em cenários como esse, foi o voto bolsonarista na cidade de Fortaleza que deu esse arranque final, que as pesquisas, felizmente, conseguiram capturar."

Geralmente, as pesquisas fazem uma tendência de calcular os votos válidos. A Quaest calculou de outra maneira, correto? Explique por que essa diferença.

"Essa metodologia aparece como nova. E, de fato, é. A Quaest trouxe para o Brasil essa inovação desde 2022, na última eleição presidencial. Nos Estados Unidos, essa técnica é usada desde 1970, porque lá o voto não é obrigatório. Então, os institutos precisam, além de acertar em quem você vai votar, também medir a chance de o eleitor comparecer no dia das eleições. Foi isso que fizemos.

Os votos válidos da Quaest vêm de um algoritmo que desenvolvemos, uma fórmula matemática e estatística que combina a intenção de votar em candidato 'a' ou candidato 'b' com a propensão de ir às urnas. Misturando esses dois elementos, é que temos o cálculo de votos válidos. Vale lembrar que fazemos isso justamente porque é assim que o TSE também calcula os votos válidos, excluindo a abstenção. Por isso, os institutos de pesquisa também têm que adotar essa prática. Esse trabalho inovador surgiu este ano e deu muitos resultados no Brasil inteiro."

A conversa foi esclarecedora. Muito obrigado e vamos continuar nos falando...

"Vamos discutir essa eleição de Fortaleza nesse segundo turno. Eu acho que vem briga boa por aí, né? Nas três últimas pesquisas que a Quaest publicou, fizemos um levantamento de como seriam as intenções de voto no segundo turno se André Fernandes e Evandro Leitão fossem disputar.

No último resultado, no dia 5 de outubro, 43% diziam, antes do primeiro turno, que votariam em André Fernandes, caso ele fosse para o segundo turno contra o Evandro. E outros 43% diziam que votariam em Evandro Leitão, se ele enfrentasse André. Ou seja, vem briga boa por aí. Vamos acompanhar."

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