A alta acelerada dos casos de contaminação pela Covid-19 no Ceará – já fartamente relatada nesta coluna e neste jornal – trouxe consigo um peso que gera uma preocupação maior com a estrutura hospitalar. No momento, cerca de 80 municípios estão com incidência maior do que Fortaleza.
Significa que muitas cidades, que não dispõem de estrutura hospitalar, irão buscar atenção em outros locais. O principal deles, a Capital, está com praticamente toda sua estrutura de UTI lotada. Com a rede de atendimento em colapso, será obrigatória a adoção de medidas mais rígidas de isolamento social.
Ao passo que muitos municípios já começam a pedir decreto de calamidade à Assembleia Legislativa, outros se preparam para o lockdown, como foi o caso de Mombaça, cujo decreto foi tornado público nesta quarta-feira (24). Mais decretos devem estar a caminho. O caso de Icó, por exemplo, que tem a maior taxa de mortalidade, é gravíssimo. Acarape, com maior incidência, também.
O decreto estadual, por sua vez, será renovado ao fim desta semana. E a sequência de altas de casos e internações deve ensejar um novo aperto nas regras. Sem condições objetivas para um lockdown, como já registramos aqui, o jeito é ir encontrando caminhos que possam reduzir a circulação de pessoas, com o mínimo de impacto possível na atividade econômica.
O setor produtivo, evidentemente, tem sido bastante afetado com as últimas medidas e há uma preocupação do governador para tentar minimizar novos impactos. Por conta disso, medidas que podem ser adotadas no novo decreto são a ampliação do toque de recolher, que atualmente está entre 22h e 5h. O horário inicial da restrição pode vir para 20h. Uma outra medida e apertar o distanciamento também nos fins de semana, com possibilidade de restrições severas.
Em entrevista a este jornal, o médico sanitarista e coordenador da Fundação Oswaldo Cruz no Ceará (Fiocruz-Ceará), Carlile Lavor, o infectologista e consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), Keny Colares, e geógrafo Eustógio Dantas, que estuda o avanço espacial da Covid-19 no Estado, definem o lockdown como estratégia urgente para dar um freio no crescimento dos casos no Ceará.
A constatação é de que as medidas adotadas até aqui devem ter resultados limitados. Uma das críticas foi à adoção de “trtamentos preventivos” com medicações sem eficácia comprovada.
Acabou a paciência dos secretários de Saúde dos estados com a lentidão do Ministério da Saúde em adquirir e distribuir as doses necessárias da vacina. Aliás, nos últimos dias, a reclamação dos profissionais da área que dura meses, chegou aos demais poderes.
O STF, em decisão nesta semana, considerou constitucional que estados, municípios e entes privados podem comprar as vacinas em caso de insuficiência do Plano Nacional de Imunização (PNI). E nesta quarta (24), o Senado Federal aprovou um projeto no mesmo sentido. A avaliação é de que agora o MS vai correr. Que corra mesmo.