O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), cometeu um triplo equívoco em declarações de caráter divisionista dadas em entrevista ao Jornal O Estado de São Paulo: erros históricos, políticos e intelectuais. Zema partiu de premissas equivocadas para defender que estados do Sul e Sudeste tenham “mais protagonismo político” no País.
A fala do gestor soa irônica, considerando estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, para onde as riquezas do Brasil foram canalizadas majoritariamente ao longo de nossa história.
Até o presente, todos os esforços de especialistas, acadêmicos e políticos visando ao equilíbrio e à equidade entre as regiões brasileiras, conforme preconizado pela Constituição Federal, não lograram fazer com que Norte e Nordeste se desenvolvessem plenamente. Este é um desafio colossal, que o governador mineiro parece negligenciar.
Do ponto de vista político, Zema também errou. Ele sugeriu que os consórcios entre estados do Sul e Sudeste deveriam se unir, inclusive no plano político, para vencer as eleições com uma inclinação ideológica à direita. Não conseguiu apoio nem dos pares.
Os consórcios regionais — legítimas uniões de estados das diferentes regiões brasileiras — têm caráter primordialmente administrativo e surgiram em um contexto em que o diálogo entre governo federal e estados estava fragilizado, sob a gestão Bolsonaro. Os consórcios serviam como meio de fortalecer a representatividade dos estados. Confundir essa dinâmica com política partidária e eleitoral é inapropriado.
Endossando esse divisionismo, Zema ecoa um discurso falacioso que sugere haver um Brasil produtivo e outro ocioso. Os nordestinos têm contribuído não apenas em seus estados natais, mas também desempenharam papel fundamental no desenvolvimento de regiões como o Sudeste.
Por fim, faltou a Romeu Zema, além da perspectiva histórica, uma visão mais futurista. Nas próximas décadas, o Nordeste brasileiro apresenta uma das maiores perspectivas de crescimento na economia nacional, especialmente no âmbito das energias renováveis e iniciativas internacionais voltadas à transição energética, como a produção em larga escala do hidrogênio verde, área na qual o Ceará se destaca.
Independentemente de qual tenha sido a intenção do governador, o resultado me parece ter sido desastroso.
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