Em destaque no contraponto ao governo Lula, direita ainda carece de liderança no Ceará

Embora faça um enfrentamento ao governo no Legislativo, ainda falta organização do campo político

Legenda: Durante a campanha eleitoral do ano passado, houve divergências entre os aliados no Estado
Foto: Camila Lima

A eleição de 2022 para o governo do Estado do Ceará, indubitavelmente, deixou cicatrizes expostas no cenário político de centro-esquerda, com a ruptura entre PT e PDT, fato amplamente divulgado pela mídia. Contudo, os impactos do resultado eleitoral também repercutiram nas forças políticas alinhadas à direita. 

No pleito do ano anterior, a competição nacional se polarizou entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), com consequências evidentes em vários estados, incluindo o Ceará. 

A política cearense apresentou uma característica distinta em relação às demais. O Ceará era o único estado do país sob a liderança do PDT, mantendo-se como o maior partido no contexto estadual.

Acrescente-se a isso o fato de ter um candidato à presidência, no caso de Ciro Gomes, que, até então, havia vencido todas as três disputas presidenciais em seu estado natal. 

No entanto, nem essa singularidade foi suficiente para alterar o cenário da disputa à Presidência da República. Ciro e o candidato a governador de seu partido, Roberto Cláudio, ficaram em terceiro lugar na corrida. O resultado final foi decidido ainda no primeiro turno, com a eleição de Elmano de Freitas (PT). 

Aqui entra o contexto da direita. O segundo colocado na eleição foi Capitão Wagner (União), que contou com o apoio do PL do presidente Jair Bolsonaro. A onda pró-Lula, como já sabemos, e a força do PT no âmbito local, definiram a eleição logo no primeiro turno, provocando reflexões entre os adversários. 

Investigações desta coluna revelam que membros do PL, mais próximos ao presidente Jair Bolsonaro, se mostraram descontentes com o fato de Capitão Wagner não ter assumido de maneira mais assertiva a candidatura presidencial. A perspectiva é que União Brasil e PL apresentem chapas independentes na eleição para Fortaleza no próximo ano. 

Os conflitos na direita, derivados das eleições, continuam a gerar, após o primeiro semestre do novo governo, prejuízos para este espectro político. Atualmente, não existe uma liderança em nível estadual para a oposição de direita. Nesse sentido, quem tem se destacado no contraponto são o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, e o ex-ministro Ciro Gomes. 

Na Assembleia Legislativa, figuras como Sargento Reginauro e Felipe Mota, da União Brasil, e Carmelo Neto, Alcides Fernandes e Dra. Silvana, do PL, se posicionam como oposição, mas seus discursos parecem limitados ao âmbito legislativo, dada a pouca influência desses personagens para o debate estadual. 

André Fernandes, o deputado federal mais votado do Ceará e grande expoente do bolsonarismo no estado, parece distanciado da realidade local, voltado quase que inteiramente às pautas nacionais. O mesmo ocorre com o senador Eduardo Girão. 

Já Capitão Wagner, que representou essa esfera política nas urnas nas últimas eleições, escolheu uma missão bastante específica: comandar a Secretaria de Saúde de Maracanaú, o que acaba por afastar sua liderança do debate público estadual. 

Nos bastidores, esse distanciamento das principais lideranças tem repercussões entre os seguidores. Eles são unânimes em afirmar que falta essa liderança de direita para a oposição. 

Sem uma união de forças nesse cenário, será mais desafiador romper a hegemonia da centro-esquerda em Fortaleza, no próximo ano, e também em 2026, na sucessão estadual.