A estratégia de Ciro ao jogar dúvida sobre candidatura ao governo

Ao se filiar ao PSDB, Ciro fez palanque, mas sabe que as circunstâncias da disputa ainda são incertas

Escrito por
Inácio Aguiar inacio.aguiar@svm.com.br
Legenda: Ex-ministro dá ao PSDB protagonismo no debate eleitoral de 2026
Foto: Thiago Gadelha

O ato de filiação de Ciro Gomes ao PSDB, nesta quarta-feira (22), confirmou a expectativa de que o ex-ministro reforça o peso político da oposição no Ceará e mantém relevância no debate público. Ainda assim, o silêncio sobre uma eventual candidatura ao Governo do Estado gerou frustração entre aliados. A indefinição persiste, mas não é obra do acaso: é estratégia.

A menos de um ano da eleição, Ciro tem consciência de que o cenário político pode mudar dentro e fora da oposição, no Ceará e no Brasil. Por isso, defende que o momento é de construir um “projeto de futuro” antes de discutir quem ocupará cada posição na chapa. O recado é direto para dentro do próprio grupo oposicionista, ainda carente de coesão e rumo definidos. A organização passa, inevitavelmente, pela mobilização das bases, e isso exige um nome competitivo que lidere o processo. Hoje, esse nome é o dele.

De olho em debates nacionais

No discurso, Ciro também deu sinais de que não abandonou o desejo de protagonismo em âmbito nacional. Falou com entusiasmo sobre as “mazelas do País” e defendeu a necessidade de reconstrução do Brasil, com críticas ao presidente Lula e à polarização política. Quando o ex-senador Tasso Jereissati sugeriu a ele a missão de reerguer o PSDB no plano nacional, Ciro não hesitou: “primeira missão aceita”.

O nome de Roberto Cláudio

A fala também deixou espaço para o “cenário ideal”. Ciro exaltou o ex-prefeito Roberto Cláudio, a quem considera “pronto para ser o governador que o Ceará merece”. É público e notório que o ex-ministro gostaria de ver o aliado encabeçando a chapa, cabendo a ele um papel mais estratégico e com olhar voltado ao cenário nacional. Mas, diante das circunstâncias, sabe que a candidatura pode acabar sendo sua.

Sinal de ânimo à base

Ciente da expectativa em torno do seu nome, Ciro não deixou a base desanimar. Disparou críticas contundentes ao governo e ao ministro Camilo Santana, abrindo fogo contra o modelo de gestão do grupo governista. E, ao final, em tom firme, reforçou o compromisso com a luta política: “vou cumprir a minha obrigação”.

A dúvida segue no ar, mas a ambiguidade, neste caso, é combustível para manter coesão na oposição.