Atrair norte-americanos ao Ceará. Esse é um dos objetivos de um projeto-piloto da Gol e Governo do Estado. O projeto já havia sido comentado pela companhia aérea na viagem da coluna a Buenos Aires, em janeiro deste ano.
“Não iniciamos o projeto, porque a companhia esteve em vias de mudanças internas, como a estruturação do Grupo Abra”, comentou um colaborador da Gol. O Grupo Abra surgiu da união da Gol Linhas Aéreas e da Avianca e suas subsidiárias.
Procurada, a Gol não detalhou o projeto até a publicação desta coluna.
Atualmente, a Gol opera um voo semanal entre Fortaleza e Miami, com um número ínfimo de passageiros norte-americanos na rota, segundo informações da própria companhia aérea.
Em agosto, quando estivemos com o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, perguntamos o que a gestão dele faria para atrair mais norte-americanos ao Nordeste. Freixo disse na ocasião que os turistas dos Estados Unidos são a segunda nacionalidade que mais visita o Brasil.
No entanto, esses turistas não chegam ao Nordeste.
Nos quatro estados da região que mais recebem turistas internacionais, os norte-americanos só estão entre as dez nacionalidades que mais visitam Pernambuco.
Mesmo assim, representam apenas 4% do volume de visitantes. Não há números de norte-americanos que chegam ao Nordeste em voos domésticos, por exemplo.
Diretamente pelo Ceará, chegaram em todo 2022, aproximadamente, 1 mil norte-americanos. Esse número considera chegadas pelo Aeroporto Internacional Pinto Martins e pelos portos do Ceará, por exemplo.
Com voos diretos vindos de Miami (Gol e Latam), chegaram a Fortaleza, um total de 4.978 passageiros, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), certamente, a maioria brasileiros.
Se todos os quase 1 mil norte-americanos chegaram pelo Aeroporto de Fortaleza, eles foram apenas 18% do total de passageiros em voos da Latam e da Gol.
Para efeitos de comparação, em voos da Gol da Argentina para Fortaleza, os hermanos podem ser até 80% dos passageiros, de voos vindos da Europa, até 50% são estrangeiros.
Como atrair os turistas norte-americanos?
Há informações de que os norte-americanos só se hospedam no exterior em hotéis de bandeiras dos Estados Unidos. Além disso, os principais destinos de praia dos americanos estão no Caribe.
Segundo a Secretaria de Turismo do Estado (Setur), os hotéis precisam ter uma série de itens para a conveniência dos visitantes norte-americanos, mimos, como cafeteiras, máquinas para aquecer água, dentre outras coisas. Precisam também ter informações de empresas especializadas sobre o que há para fazer no destino brasileiro.
Segundo Luiz Teixeira, gerente de Operações Internacionais da Gol Linhas Aéreas, precisa haver empresas especializadas no Ceará para receber os turistas americanos no Ceará.
“Não precisa ir aos EUA e fazer necessariamente um road show sobre o Ceará, nós podemos pedir aos agentes de viagem de lá que divulguem internamente, por exemplo, o destino Ceará, mas localmente, precisa haver empresas que se comuniquem com esses agentes de viagem americanos e apresentem o que há para se fazer no Ceará”.
Segundo Luiz Teixeira, essas empresas são as DMC, Destination Management Company ou Empresas de Gerenciamento de Destinos.
“Os agentes da DMC serão aquelas pessoas no Ceará que chegarão aos melhores restaurantes e barracas de praia e pedirão que o estabelecimento reserve as melhores mesas para os turistas americanos, que os recebam com bebidas geladas exclusivas, como kit de boas-vindas”, comentou uma fonte do setor de turismo.
A DMC seria uma espécie de receptivo local para apresentar o que há de melhor a se fazer no destino escolhido.
Em conversa com a Secretária de Turismo, Yrvana Albuquerque, a titular da pasta deu indicações de que o estado sabe o que precisa ser realizado para atrair mais turistas.
“A Secretaria do Turismo (Setur) informa que está em negociação com operadoras tanto nacionais como internacionais para promover um intercâmbio de capacitações, cujo objetivo é atrair cada vez mais turistas americanos ao Ceará. Paralelamente, buscando aproximar esse mercado com o destino, a Setur participa, em outubro, de duas importantes feiras do calendário americano. A primeira será a IMEX America, em parceria com a Embratur, entre os dias 17 a 19, em Las Vegas. E a segunda será a ITS New York, de 26 a 28, em Nova York”.
Falta divulgação
Segundo o ex-diplomata e professor de Direito Internacional, Paulo Henrique Gonçalves Portela, “a causa central para a baixa de turistas internacionais no Brasil é genérica, o Brasil não tem uma boa divulgação. Se o Brasil se vende mal no mundo, como um todo, o país se venderá mal num dos maiores mercados emissores, que são os EUA”.
Segundo Paulo, o país sofre ainda com a má imagem de perigoso: “lembro que o Departamento de Estado Norte-Americano emitia orientações de cuidados para mulheres e pessoas dos grupos LGBTQIA+ no Brasil, que tivessem cuidado”, explicou.
“A necessidade de visto também é um complicador. O americano verá que o México não existe necessidade de visto, como diversos outros países mais próximos. Ainda é mais difícil pela localização do México, Jamaica, costa caribenha da Colômbia, República Dominicana, todos mais próximos que o Brasil”, comenta Paulo Henrique.
O ex-diplomata comenta inclusive sobre a oportunidade de o americano chegar ao Caribe com companhias low-cost: “Há inclusive companhias aéreas de baixo custo como Spirit, Volaris que voam para esses lugares de sol e praia. Esse é o ponto central porque o Nordeste vende muito um produto similar. O produto deles é concorrente ao nosso”.
Segundo Portela, para rever isso, é necessário um longo caminho. Temos que rever política de divulgação, mais voos, mais pontos de entrada. “Nosso serviço tem que ser melhor. Mesmo concorrendo com países violentos, como o México, o Brasil precisa ser melhor. Precisamos investir na promoção de atividades como o kitesurf. Precisamos investir também nos nossos diferenciais, cultura, aquilo que nos faz únicos no mundo”, finalizou.
Ecoturismo
Segundo o presidente da ABIH-Ceara (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Régis Medeiros, o papel de ter escritórios locais para divulgar o Brasil no mundo é da Embratur. "A Embratur teve escritórios em vários destinos da Europa e América. Milão, Frankfurt. Esses escritórios, fazem contatos com operadores turísticos locais nesses países, para apresentar o Brasil nesses destinos".
“Ingleses, americanos, buscam mais o ecoturismo, diferentemente dos mais hispânicos, que buscam praia. O americano vem ver floresta ou praia? Vem ver Foz do Iguaçu e a Floresta Amazônica”, explicou Régis Medeiros.
Quando pergunto se conhecia o papel de importância de empresas DMC, ponderou: “Talvez estejam falando de promoção de destinos, o Ceará não tem escritório, uma empresa que trate de vender o Ceará na Flórida. Os EUA são muito grandes, precisaria haver mais escritórios com sucursais em outros estados de lá.”
Mesmo assim, Régis compartilha um fator que preocupa: “Eu não vejo o Nordeste como grande destino turístico para americanos. Americano não vai para hotel que não seja americano. Caribe, Cancún têm muitos hotéis de cadeia americanos. Americanos tem muita preocupação com segurança, com o inglês”, explicou.
Apesar de achar que os americanos não são muito próximos de nós, Régis Medeiros compartilha que poderíamos trazer os hispânicos que vivem na Flórida, por exemplo.
Segundo o Presidente da ABIH-Ceará, tudo começaria com um escritório para vender nosso destino nos EUA: “Vão apresentar nosso destino para operadores. Se houver interesse, esse operador vai realizar uma visita técnica ao Ceará para conhecer as empresas de receptivos locais, o leque de locais para alimentação, organizar um cronograma de visitas e etc”.
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.