Fotógrafos de aeronaves, spotters nordestinos voam pela primeira vez em ‘Avião do Forró’

Legenda: O Boeing 737-800 foi adesivado com o tema junino
Foto: Hamilton Gomes/Arquivo pessoal

Já são mais de 10 anos acompanhando diariamente aviação através de aplicativos radares, participando de fóruns virtuais da área, acompanhando movimentação da aviação comercial no Nordeste, voando regularmente. Nos meus primórdios, não havia Flight Radar 24, mas Máquinas Voadoras.

Durante todo esse tempo, há muito conhecimento adquirido na prática, aglutinando-se com o conhecimento técnico da engenharia aeronáutica.

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Interessante pensar que, durante todo esse tempo, por não trabalhar diretamente com aviação, perguntava-me se faria esse conhecimento útil para a sociedade, sobre o que poderia receber em troca, além de mais e mais conhecimento. Realmente não sabia o que seria desse hobby, mas não acompanhar aviação, nunca foi uma opção. Não consegui imaginar que em julho de 2022 haveria o convite para iniciarmos esta coluna: fará 1 aninho em breve.

Assim, é na vida com outras pessoas, conheci em Campina Grande spotters que acompanham também aviação desde crianças/adolescentes e sempre o fizeram gratuitamente, tacitamente, por pura estima e prazer. Não poderiam imaginar que teriam o trabalho reconhecido e em troca receberiam o convite para voar (pela primeira vez).

Essa história começa quando a Gol convidou nossa coluna para estar no avião do forró, já contamos sobre ele, um voo espetacular e ultracarregado de cultura nordestina entre Salvador e Campina Grande, no último dia 3.

Legenda: Avião da Gol adesivado para o São João
Foto: Divulgação/Gol

Consequentemente, durante a semana de preparação para a viagem, conheci pelo Instagram um spotter de aeronaves de Campina Grande que nos contou que fora também convidado para curtir o voo inaugural entre Salvador e sua cidade.

O melhor: era a primeira vez que voaria. Que ocasião mais especial, voar para sua cidade na época do "Melhor São João do Mundo" com direito a “tratamento vip” e acesso a estar bem pertinho de aeronaves preparadas com temas comemorativos.

Héred Swan, que cresceu em Campina Grande, conta que desde criança passava pelo aeroporto e admirava os aviões. Também com ele, viajaria outro grande amigo e spotter da terra: Hamilton Gomes. Ambos saíram de Campina Grande com a Gol na madrugada do dia 3 e aguardariam o voo da volta, festivo, em Salvador na tarde do mesmo dia.
Encontrei-me com os dois no aeroporto da capital baiana e batemos um papo demorado sobre essa maravilhosa mania.

Spotters Héred e Hamilton
Legenda: Conversamos com Héred e Hamilton, spotters convidados pela Gol para voarem no Avião do Forró para Campina Grande
Foto: Igor Pires

“Minha mãe costumava me levar para ver máquinas pesadas como trens, tratores, e aviões, ela sempre gostou muito. E dela veio essa grande paixão de acompanhar aviação. Assim, comecei a bater fotos com um celular que tinha, as fotos não saiam excelentes, mas o pessoal curtia”, comenta Héred. Lembro que ela me levou para ver uma apresentação da esquadrilha da fumação, eu devia ter uns 3 anos”, contou.

“Nós começamos de muito tempo indo até o aeroporto e acompanhando a movimentação, mas eu nunca voei” disse Hered. Pergunto se, nesse tempo todo, mais de 20 anos, não havia entrado em aeronaves.

“Entrei, em fevereiro, a Gol trouxe o avião temático do Harry Potter (Expresso Hogwarts) para Campina e convidou muitos spotters para acompanharmos. A alegria foi tanta que quase caí da escada de acesso”, disse aos risos. “Eu não acreditei quando chamaram, pensei que queriam rackear meu Instagram, acredita? Era um sonho se concretizando”.

Héred, Hamilton e os spotters de Campina Grande ao lado do Expresso Hogwarts
Legenda: Héred, Hamilton e os spotters de Campina Grande ao lado do Expresso Hogwarts
Foto: Héred Swan/Arquivo Pessoal

Perguntei como havia se dado o convite para estar no avião do forro. Hered conta que os spotters recebem muita atenção da Aena (concessionária do Aeroporto de Campina Grande), bem como da própria Gol, que está sempre em contato. “Um amigo da Gol sabia que eu nunca tinha voado desde o evento do avião do Harry Potter. Meses depois me ligou e disse: “olha, quero te convidar, você e o Hamilton, para uma oportunidade, mas por favor, segura a emoção”. 

Héred disse que estava muito nervoso: “minhas mãos tremiam, eu pedi que ele dissesse logo, o que era, porque eu estava nervoso, e aí foi quando disse que nós voaríamos até Salvador. No início só sabíamos que íamos buscar o voo inaugural entre Salvador e Campina.” 

Hamilton (esquerda) e Héred prestes a embarcar até Salvador para regressarem com o Avião do Forró
Legenda: Hamilton (esquerda) e Héred prestes a embarcar até Salvador para regressarem com o Avião do Forró
Foto: Arquivo pessoal

Héred, muito emocionado, ligou para o amigo Hamilton para contar a grande novidade: “liguei imediatamente para ele, mas ele foi jogar futebol e não levou o celular”. Hamilton conta que quando chegou em casa, havia tantas ligações e áudios de Héred em seu celular, que tinha certeza que alguém havia falecido: “quando eu comecei a ouvir os áudios do Héred, não consegui escutar até o final, eu não conseguia acreditar naquilo. Minha mãe percebeu a cara de espanto que fiz e perguntou-me se eu estava bem.”

Os dois contam que o convite surgira há mais de um mês e de vez em quando, Hamilton perguntava a Héred se era verdade tudo que viveriam. Contaram de como eram gratos ao amigo da Gol, também nascido em Campina Grande, Mateus Motta, mais de 10 anos na companhia aérea. “O Motta sempre nos disse que se via muito em nós em seu começo, como amante de aviação, como spotter de aviação, quando ia ao aeroporto também conversar com o pessoal da aviação da cidade.”, contou Héred.

“O Motta segurou a informação até o fim sobre a aeronave ser adesivada temática do São João e de que haveria uma grande celebração”, complementou Héred. 

Câmeras profissionais

Os spotters nos contam que não possuem máquinas profissionais. Conseguem realizar o trabalho com o celular. 
“Eu tenho a opinião de que o spotter não precisa ter câmera profissional. Desde criança eu ia ver os aviões, mas em 2010, comprei meu primeiro celular, um Siemens, com câmera em VGA. A qualidade não era excelente, mas o pessoal gostava. Pena que perdi todas essas fotos. Hoje em dia continuo tirando fotos do celular”.

Em Campina Grande, Mateus Motta nos contou que os dois são muito compenetrados nas suas ações e já servem como exemplo para spotter locais mais novos: “a dedicação deles merecia ser exaltada, premiada. Os spotters mais jovens vêem o trabalho deles e se inspiram”. 

“Sempre adorei ver os aviões, mas antes não tinha aplicativo para saber a que horas eles vinham. A gente só escutava o barulho deles passando e corria para o aeroporto.”, contou Hamilton.

Chegada em Campina Grande com o Avião do Forró
Legenda: Chegada em Campina Grande com o Avião do Forró
Foto: Hamilton Gomes/Arquivo pessoal

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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

**O colunista viajou a convite da Gol Linhas Aéreas.

 



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