Quando os adultos esquecem de brincar

Mãe viraliza ao criticar pais que reclamam das atividades da Semana da Criança

Escrito por
Eliziane Correia producaodiario@svm.com.br
Legenda: As telas precisam ficar de lado, e a brincadeira e a convivência devem ser prioridade.
Foto: Halfpoint/Shutterstock,

As redes sociais foram tomadas por comentários e risadas após o vídeo da influenciadora Monique Brasil viralizar. No conteúdo, ela critica - com bom humor - os pais que reclamam das tradicionais atividades da Semana da Criança, como o “Cabelo Maluco” e a “Mochila Maluca”.

“Para de reclamar! Para de ser um adulto chato que não quer fazer nada!”, dispara Monique, arrancando gargalhadas e reflexões.

Eu, que sempre embarco no universo da infância, me senti convidada a trazer esse assunto. Afinal, levo muito a sério essa fase do desenvolvimento e, mesmo não tendo tantas habilidades, me esforço para oferecer o melhor em cada experiência com minha filha.

Mas a fala de Monique vai além de um desabafo divertido, ela levanta uma questão importante: por que tantos adultos têm dificuldade de entrar no universo lúdico das crianças? Ela mesma provoca:

“É um momento de se conectar com a infância do seu filho, de fazer uma coisa divertida, de as crianças darem risada e dos professores terem um dia mais leve na escola.”

A desconexão com a própria infância

Para a pedagoga e neuropsicopedagoga Kátia Miranda, o incômodo de muitos adultos diante dessas atividades revela uma desconexão com a própria infância e isso pode afetar até o vínculo com os filhos.

“A ludicidade é extremamente importante, principalmente nessa fase de desenvolvimento. É nesse período que as brincadeiras ajudam na cognição. As sinapses estão em perfeita harmonia para que essa criança aprenda e se desenvolva como pessoa”, explica a especialista.

Kátia destaca que ações simples, como participar do “Cabelo Maluco” ou criar uma meia personalizada, não são apenas brincadeiras: são exercícios de criatividade, expressão e pertencimento.

“É necessário deixar mais as telas de lado, brincar com massinha, fazer receitas, pintar, criar histórias. Quando os pais participam e interagem, estão ajudando no lado emocional da criança.”

Entre o cansaço e a escolha

Enquanto adultos, é comum reclamarmos da falta de tempo, mas será que estamos usando cada minuto a favor dos nossos filhos? Ou apenas cumprindo o fluxo das tarefas diárias?

Lanço essas perguntas para provocar uma reflexão mais profunda e, talvez, despertar nosso lado mais sensível. Cansados e atarefados, já sabemos que somos. Mas também cabe a nós administrar essa rotina de forma inteligente, entendendo que o brincar faz parte das responsabilidades da vida em família.

Como levar o clima lúdico para o dia a dia

Kátia Miranda propõe um olhar simples e acessível:

“Brincar com o que tem em casa, ajudar nos afazeres domésticos, colocar a tampa da panela na cabeça, inventar histórias… Hoje em dia, ninguém pode dizer que falta criatividade.”

E para quem quer aproveitar essa temporada de alta demanda criativa com os pequenos, seguem alguns pontos que considero valiosos:

  • Inclua o brincar na rotina: mesmo em dias corridos, reserve 10 a 15 minutos para brincar, contar uma história ou inventar um personagem.
  • Participe das propostas da escola com leveza: em vez de reclamar do penteado maluco, ria junto, crie junto. Faça disso um momento especial.
  • Evite críticas ao gosto da criança: se a mochila é colorida demais ou o penteado parece “estranho”, lembre-se: o importante é como ela se sente.
  • Permita-se ser criança também: rir alto, brincar sem pressa, imaginar sem limites. É nesse retorno à simplicidade que a conexão verdadeira acontece.

Por fim, um lembrete da especialista:

“Vamos deixar a vida mais leve, mais prazerosa… Lá na frente, vocês vão perceber que seus filhos vão lembrar desses momentos. Vão guardar essas memórias afetivas.”

Talvez o que falte em muitos adultos não seja tempo, seja permissão para brincar de novo. Porque, no fim, a infância dos nossos filhos também é uma segunda chance de reencontrar a nossa.