Pacote de Haddad assusta Bolsa, Congresso e empresariado

Deputados e senadores advertem que Medida Provisória que reonera folha de pessoal das empresas não passará. Indústria têxtil emite nota, mostrando preocupação com as ideias do ministro Fernando Haddad

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 05:52)
Legenda: No Congresso Nacional, a ideia de reonerar a folha de pessoal das empresas foi condenada.
Foto: Agência Câmara
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Ontem, o mercado financeiro e, principalmente, o mundo político surpreenderam-se com o anúncio feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo o qual o governo editará uma Medida Provisória cujo objetivo será o de compensar as perdas tributárias causadas pela desoneração da folha de pessoal das empresas.

Há 10 dias, o Congresso Nacional decidiu prorrogar essa desoneração até 2027, mas o presidente Lula vetou totalmente o projeto de lei aprovado pelo voto de mais de 80% dos deputados e senadores, que derrubaram o veto presidencial. Essa Medida Provisória virá, então, para recompor as receitas do governo, cobrando imposto de empresas de vários setores da atividade econômica, principalmente da indústria.

O empresariado e o Parlamento reagiram ontem mesmo contra essa ideia do governo. Deputados e senadores consideraram que o Palácio do Planalto quer afrontar o Congresso Nacional.

O senador Efraim Filho, que foi o relator do projeto de desoneração da folha de pessoal das empresas, disse ontem, falando pela televisão, que o governo será derrotado de novo, se tentar, via Medida Provisória, impor sua vontade em um tema já superado. 

Ontem, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), divulgou nota em que revela sua "preocupação com a proposta do Governo Federal de compensar o impacto da desoneração da folha de pagamentos, que teve sua prorrogação aprovada pelo Congresso Nacional até 2027 e acaba de ser promulgada no Diário Oficial da União, por meio de uma Medida Provisória (MP), conforme anunciado pelo ministro Fernando Haddad".

"A Abit reconhece o esforço do governo para alcançar o déficit zero em 2024, porém não poderia deixar de se preocupar com a proposta de reoneração gradual da folha, que pode impactar parte dos 1,5 milhão de postos de trabalho formais mantidos pelo setor têxtil e de confecção em todo o território nacional. A entidade informa que aguardará a edição da MP para um pronunciamento mais detalhado", acrescenta a nota, que também salienta o seguinte:.

"É importante ressaltar, no entanto, que chama a atenção a ausência, dentre as medidas anunciadas, da taxação com impostos federais das compras internacionais de até US$ 50 realizadas por meio dos e-commerces. Enquanto o setor produtivo brasileiro sofre com a elevada carga tributária do país, fabricantes e comerciantes estrangeiros valem-se da isenção e com isto competem de maneira não isonômica com os agentes econômicos brasileiros.

"Nesse sentido, a Abit reitera a importância de que uma proposta definitiva sobre a tributação da folha de pagamento se dê, como está previsto, na próxima etapa da reforma tributária, que deve ser encaminhada pelo governo ao Congresso em até 90 dias após a promulgação da primeira etapa."

O governo não tem maioria no Congresso para aprovar medidas que aumente ainda mais a já elevada carga tributária do país.

Esta notícia causou impacto negativo na Bolsa de Valores, que fechou ontem quase na estabilidade, com queda de 0,01%, aos 134.194 pontos. Hoje, a Bolsa B3 realiza o último pregão deste ano.

Ao longo deste 2023, a bolsa brasileira teve ganhos de 22,28%. Só neste mês de dezembro, a valorização das ações negociadas na B3 alcançou 5,38%.


O dólar encerrou o dia de ontem com alta de 0,41%, cotado a R$ 4,85.

Ontem, uma notícia ruim veio do IBGE, que divulgou o IPCA-15, que é a prévia da inflação deste mês dezembro. O índice subiu 0,40%, acima da previsão do mercado, que esperava 0,27%.

Mas o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a taxa de juros Selic continuará sua trajetória de queda.

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