O financiamento para a transição energética

No Brasil, o BNDES já anunciou programa de apoio a projetos-piloto de produção ou utilização do hidrogênio verde. A União Europeia está disposta a financiar até 42 bilhões de euros até 2030

Legenda: No Brsill, o BNDES e, na Europa, a própria União Europeia têm planos e programas para financiar a produção do Hidrogênio Verde
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O texto a seguir é de autoria de Cibele Gaspar, mestra em Administração e Gestão Estratégica, especialista em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria, Financiamentos Internacionais e Parcerias Público Privadas. É diretora da Nexxi Assessoria Financeira. Ele aborda uma questão muito atual - o financiameto dos projetos de produção do H2V e da geração de energia eólica offshore. 

O financiamento à transição energética, por meio de plantas de produção de hidrogênio verde e eólicas offshore, envolve volumes de recursos significativos que exigem uma construção mais elaborada e, em muitos casos, com a participação de diversas instituições financeiras ou mais de um formato de captação, preferencialmente através de mercado de capitais.

O BNDES anunciou recentemente um programa de apoio a projetos piloto de produção ou utilização de hidrogênio verde. O valor máximo financiável é de R$ 300 milhões. Hoje, há três projetos em estudo no BNDES. O Banco pretende, em breve, apoiar plantas exportadoras de hidrogênio de baixo carbono e estuda a possibilidade de custos de financiamento em moeda estrangeira para viabilizar a implantação de grandes plantas no País, capazes de exportar o combustível, com investimentos que podem chegar a dezenas de bilhões de reais.

A União Europeia tem planos ambiciosos para a promoção do H2 como energia limpa. Suas estratégias encontram-se focadas no desenvolvimento do hidrogênio verde para produção de amônia e outros derivados, bem como no uso do H2 na descarbonização dos setores industriais, especialmente aço e siderurgia, e de mobilidade.

Até 2030, o bloco europeu pretende alocar até 42 bilhões de euros em investimentos para eletrólise e entre € 220 bilhões e 340 bilhões para aumentar e conectar diretamente 80 a 120 GW de capacidade de produção de energia solar e eólica. Há, também, 39.700 km de Backbone Europeu de Hidrogênio, que vai requerer um investimento total de € 34 a 81 bilhões, até 2040.

O Banco Europeu de Hidrogênio, criado recentemente, poderá investir € 3 bilhões para ajudar a construir o futuro mercado de hidrogênio, um verdadeiro Pacto Verde Europeu.  O caminho traçado pela União Europeia é reduzir a dependência do gás russo e, por sua vez, apostar nas energias renováveis, e sobretudo no hidrogénio renovável.

Nesta linha, o banco fornecerá os instrumentos de financiamento necessários para aumentar o desenvolvimento do setor, ajudando a garantir a compra de hidrogênio, em especial utilizando os recursos de Fundos de Inovação.  Além disso, com medidas como REPowerEU , o objetivo é produzir 10 milhões de toneladas de hidrogênio renovável na União Europeia a cada ano até 2030. Nesse contexto, destacam-se as iniciativas recentes lançadas na União, como os trens regionais em norte da Alemanha que funcionam com hidrogênio verde.

A todo momento divulgam-se iniciativas e novos instrumentos de financiamento, inclusive em caráter não renovável (grants), para suportar tais estratégias. Os mais relevantes são o Recovery and Resilience Facility (RRF): € 672,5 milhões em empréstimos e subvenções e Horizon Europe, com € 95,5 bilhões em subvenções.

Aqui na terrinha, ainda não se concretizou uma articulação institucional entre as principais instituições financeiras de desenvolvimento, que possam dar suporte à formação de fundos ou programas de financiamentos robustos que suportem financiar as plantas de hidrogênio verde e eólicas offshore e que levem o Brasil ao patamar que lhe cabe nessa indústria mundial, considerando suas vantagens competitivas frente aos demais países do Globo.

Um olhar para o passado nos diz que é possível. Há algumas décadas, o Banco do Nordeste implementou, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Programa de Desenvolvimento do Turismo – Prodetur, que desde 1994 financia com muito êxito a infraestrutura turística que conhecemos hoje na região, criando condições favoráveis para a expansão da atividade turística e melhoria da qualidade de vida das populações beneficiadas.

O aporte de recursos do Prodetur, feito em duas fases, totalizou US$ 1,47 bilhões nos anos 2000. Foram financiados o saneamento básico, instalação ou ampliação de aeroportos, urbanização de áreas turísticas, além da estruturação de diversos polos turísticos por todo o Nordeste e Norte de Minas Gerais.

Nosso País está apto a suprir o mercado externo de hidrogênio, financiando as plantas industriais para as quais já existem mais de 22 memorandos assinados, somente no Estado do Ceará, sem contar o resto do País. Mas, primordialmente, atuar na descarbonização de sua própria indústria, que necessitará de elevados investimentos para reduzir suas emissões.

O desafio está lançado. Se adicionarmos os ingredientes da articulação, da construção coletiva, com a colaboração sempre presente dos organismos multilaterais e agências de desenvolvimento em todo o mundo, teremos grandes chances de ter o Brasil e o Ceará como protagonistas desse futuro que se avizinha.