Faec sugere ao governo que Centro de Cultivo Protegido seja na Ibiapaba

Na serra ibiapabana, empresas e pequenos produtores já produzem sob estufas, em 350 hectares, tomates, pimentões coloridos e flores. No Cariri, não há um só hectare

Legenda: Pequenos produtores cearenses já produzem pimentões coloridos sob estufas
Foto: Foto: Divulgação

Está o governo do Ceará prestes a investir R$ 10 milhões na construção de um Centro de Desenvolvimento de Cultivo Protegido que será instalado no mesmo sítio em que funcionou por muitos anos a usina de cana de açúcar de Barbalha, na região do Cariri, no Sul do Estado. Para a implantação desse equipamento, a Secretaria Executiva do Agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) celebrou contrato com a Universidade de Wageningen, que domina e dissemina no mundo todo a tecnologia das culturas agrícola sob estufas. 
A ideia é boa e a intenção é excelente, mas o investimento do governo cearense poderá ser financeiramente menor e qualitativamente melhor aproveitado se, em vez de Barbalha, ele for aplicado na região da Ibiapaba, onde o cultivo protegido já existe e opera plenamente em 350 hectares que produzem flores, tomates e pimentões coloridos, como disse à coluna o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, que ontem visitou aqui o campus e os laboratórios de pesquisa da Universidade de Wageningen.
Acompanhado do empresário Fábio Régis, maior produtor de banana do Ceará, com fazenda de produção em Missão Velha, e do superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Agrícola (Senar-Ceará), Silveira conheceu ontem o campus da Wageningen Universiy & Research, instalado 100 Km ao Sul de Amsterdam numa área denominada Food Valey.
Com o jeito franco de expor seus pontos de vista, o presidente da Faec elogiou a decisão do governo do Estado – tomada ainda na gestão do governador Camilo Santana e do seu secretário do Desenvolvimento Econômico, Maia Júnior, e mantida pelo atual governador Elmano de Freitas e pelo seu secretário Salmito Filho – de instalar um Centro de Desenvolvimento do Cultivo Protegido no Ceará, mas discordou do local escolhido – que é a geografia do município de Barbalha, na região do Cariri, no Sul do estado.
“Barbalha é local inadequado. Esse centro tem de ir ao encontro dos projetos de cultivo protegido já existentes e em franco desenvolvimento na Serra da Ibiapaba. Lá, grandes empresas e pequenos produtores rurais já instalaram mais de 350 hectares de estufas. São eles que merecem esse Centro, é para eles que deve ir esse investimento de R$ 10 milhões. Neste momento, não há no Cariri um só hectare com cultivo protegido. Por que, então, fazer em Barbalha esse investimento?”, indaga Amílcar Silveira. 
Ele mesmo responde:
“Há um esforço do governo estadual no sentido de aproveitar o terreno e o que sobrou das instalações físicas da antiga usina de açúcar de Barbalha. Também estou de acordo. Mas discordo do projeto de implantar nesse município o Centro de Desenvolvimento de Cultivo Protegido, pois isso não faz qualquer sentido. O correto, o mais indicado, o mais sensato é que esse equipamento seja construído ao lado de onde se encontram – em mais de 350 hectares – os que já praticam o cultivo protegido, como a Rosa Rejeirs, a Itaueira Agropecuária, a Trabeschi Tomates e dezenas de pequenos produtores de hortaliças que produzem protegidos de isentos e pragas, plantando, colhendo e comercializando produtos de alta qualidade”.
Esta coluna já conheceu o projeto arquitetônico elaborado pela Secretaria Executiva do Agronegócio da SDE para a implantação do Centro de Cultivo Protegido do Ceará. O projeto aproveitou uma parte das instalações físicas da desativada usina de açúcar, criou espaços novos e deu à futura edificação um ar de modernidade, restaurando e embelezando o que hoje está totalmente degradado. 
“Entendo tudo isso, entendo e apoio o objetivo do governo do estado, mas tenho de reconheer que esse projeto está clara, geográfica e economicamente deslocado. O Centro de Cultivo Protegido não deve ser no Cariri, onde isso não existe, mas na Chapada da Ibiapaba, onde o cultivo protegido cresce na velocidade do frevo, para usar uma expressão própria desta época momina”, acentuou o presidente da Faec, que hoje retorna de Amsterdam para Fortaleza, com escala em Lisboa, onde haverá conexão.
Opinião semelhante tem o empresário Fábio Régis, dono do Sítio Barreiras, que, na zona rural de Missão Velha, produz banana prata para o mercado do Nordeste e de do Sudeste do país – ele é o maior produtor nordestino dessa fruta. 
“O Centro de Cultivo Protegido tem de ser construído na região da Ibiapaba, pois é lá que ele existe e se desenvolve hoje. Se os pesquisadores da Universidade de Wageningen forem levados a conhecer o que se passa na Ibiapaba, com certeza ficarão entusiasmados, pois verão o cultivo protegido sendo usado, com absoluto sucesso, por grandes empresários e por pequenos produtores, e esta é a melhor notícia para quem faz pesquisa”, comentou Fábio Régis.
Superintendente do capítulo cearense do Serviço Nacional de Aprendizagem Agrícola (Senar-CE), o agrônomo Sérgio Oliveira repetiu o mesmo discurso. 
“Na minha modesta, mas técnica opinião, será um equívoco construir no Cariri o Centro de Desenvolvimento do Cultivo Protegido do Ceará. A opção adequada será a Ibiapaba, onde será menor o custo de implantação do equipamento e melhor e maior o seu retorno, que se dará em curtíssimo prazo, tendo em vista que já existem executivos, técnicos e mão de obra qualificada por esforço próprio, ou seja, sem a ajuda de organismos governamentais”, disse o superintendente do Senar-CE.
Ontem, Amílcar Silveira mostrou à coluna fotos de satélite da Chapada da Ibiapaba e surpreende o número e as dimensões dos projetos de cultivo protegido. Os da Rosa Reijers e os da Itaueira Agropecuária chamam atenção pelas grandes dimensões.