Desemprego no Ceará? Falta mão de obra para colher safra do agro

Empresários da agricultura não conseguem contratar trabalhadores para a colheita e culpam a ociosidade remunerada pelos programas sociais do governo, que deveriam ter porta de entrada e de saída

Legenda: Empresários da agropecuária cearense reclamam que falta mão de obra para a colheita da safra agrícola
Foto: Agência Brasil

Parece inacreditável, e é. Na Chapada do Apodi, uma área de 16 hectares cultivada de feijão está linda de se ver. Toda a plantação tirou proveito das boas chuvas que desabaram sobre a região de janeiro a março deste ano e, agora, está pronta para a colheita. É aqui que entra o inacreditável.

O dono do roçado, agropecuarista Luiz Girão, fundador da Betânia Lácteos, que hoje é a Alvoar Lácteos, manda dizer à coluna que sua safra de feijão ainda não foi colhida por um motivo absolutamente inédito: não há mão de obra para o serviço. “Nunca vi isso na minha vida”, diz Girão, acrescentando: “Nem de meia (50% do feijão para quem o colher) eu consigo gente para a colheita, e olhe que um saco de feijão está custando R$ 500!”

Está acontecendo aqui o mesmo que acontece em São Paulo, onde o governo estadual lançou no ano passado cinco programas de qualificação de pessoal divulgados nas mídias localizadas, nas emissoras de rádio, “e só conseguimos menos de 20% de adesão das pessoas”, como explicou pelas redes sociais o secretário estadual de Desenvolvimento, Jorge Lima. Ele disse:
 
“Hoje, as pessoas preferem viver de programas sociais”.

Lima contou que um empresário investiu R$ 1 bilhão em um projeto agroindustrial no município paulista de Ibiúna. A mão de obra para o empreendimento teve de ser transferida de Roraima, no extremo Norte do país. E quem veio? Os venezuelanos que fugiram do seu país e vieram abrigar-se no Brasil. 

“Simplesmente, não houve interesse dos trabalhadores de Ibiúna nem do seu entorno pelo programa de qualificação promovido pelo governo do estado e pelo empreendedor”, explicou o secretário Jorge Lima, justificando a presença dos trabalhadores venezuelanos.

Luiz Girão disse que o seu feijão ainda está em pé no roçado de 16 hectares, mas condenado a perder-se todo pela falta de quem o colha. “É algo que nunca havia visto aqui no Apodi”, comentou ele, argumentando que os programas sociais, como o Bolsa Família, deveriam ter duas portas – uma de entrada e uma de saída, para não acostumar as pessoas à ociosidade.”

A mesma opinião tem o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, para quem, “infelizmente, esta é uma triste realidade”. 

Outro agropecuarista – Fernando Franco – concorda com a opinião de Girão e Silveira. Ele diz que “a situação no interior do Nordeste, por falta de mão de obra, é gravíssima”. E, fazendo jus ao seu sobrenome, sentencia: 

“Precisamos de uma mobilização nacional sobre este tema. Na nossa fazenda, o quadro é dramático, pois em todo o seu entorno falta quem queira trabalhar e sobra quem vive da ociosidade remunerada pelo governo”.

Em grupos sociais ligados à agropecuária, surgiu a sugestão no sentido de o governo permitir que, temporariamente, ou seja, nos períodos de colheita da safra de determinado produto, o trabalhador possa acumular o benefício do Bolsa Família com o pró-labore pago pelo agricultor. Seria uma providência que melhoraria a renda na zona rural, incrementaria o consumo na região e incentivaria a economia. 

Esta coluna já disse, e agora o repete: é difícil empreender no Brasil. Mais difícil ainda é empreendedor no Nordeste. Porém, parece quase impossível empreender na atividade agropastoril no sertão nordestino, tantas são as dificuldades que a burocracia do governo impõe a quem quer levar o desenvolvimento social e econômico à região. 

A economia primária empresarial do Ceará utiliza o melhor do que dispõe hoje a tecnologia e a inovação. Na fruticultura, na cotonicultura, na carcinicultura, na floricultura, na avicultura, na pecuária bovina, bubalina, caprina e ovina – leiteira e de corte – os empresários cearenses estão na ponta tecnológica, sendo exemplos disto a Agrícola Famosa, a Itaueira Agropecuária, a Samaria Camarões, a Alvoar Lácteos (antiga Betânia Lácteos), a Cialne, a Tijuca Alimentos, a Cambi, a Fazenda Granjeiro, a Nova Agro, a Bomar e a Fertsan, que levaram o agro do Ceará ao patamar de protagonismo em que se encontra agora. 

Se o governo fizer sua parte – e as intenções do governador Elmano de Freitas são as melhores possíveis – a perspectiva para o futuro próximo é muito otimista. Então, que se juntem as partes interessadas no progresso do Ceará.

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