Associações politicamente fortes crescem e minam a CNA

Principais setores da agropecuária brasileira criaram suas associações nacionais que, fortes, como a Aprosoja, a Abrapa e a Abramilho, agem distantes da interferência da Confederação da Agricultura.

Legenda: A agricultura brasileira cresce e para isso conta grandes associações de produtores, que atuam distantes da CNA
Foto: Honório Barbosa/Diário do Nordeste

Algo vai errado na Confederação Nacional da Agricultura (CNA). É que cresceu exponencialmente, nos últimos anos, o número de associações nacionais de produtores das diferentes áreas de atuação do agronegócio.

Foram criadas e têm vida própria, com interlocução direta com as autoridades dos governos federal e estaduais, entidades que reúnem, por exemplo, os produtores de soja (Abrasoja), de algodão (Abrapa), de milho (Abramilho), de frutas (Abrafrutas), de leite (Abraleite), de abacate (ABPA), de amido de mandioca (Abam), de maçã (ABPM), de proteína animal (ABPA), de mamão Formosa e P:apaya (APM) etc etc.

Para completar a lista, foi criada há poucas semanas a Rede Nacional de Irrigantes (Renai), que congrega – reparem bem – 81 entidades agrícolas de várias culturas e de vários estados do país.

Para presidi-la, foi eleito, por unanimidade, o empresário Luís Roberto Barcelos, sócio e diretor institucional da Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora mundial de melão, com fazenda de produção em Icapuí, no Leste do Ceará.

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Todas essas associações atuam de forma independente, ou seja, desvinculada da CNA, que, apesar de ser, do ponto de vista legal e sindical, a representante de toda a agropecuária brasileira, não tem, hoje, o prestígio que tinha há 40 anos.

Se a CNA estivesse cumprindo com êxito suas tarefas de lutar pelo interesse de quem produz e trabalha na agropecuária brasileira, todas essas associações – que passam de cinco dezenas – não teriam sido criadas, não existiriam. Então, surge a pergunta: Por que isto acontece?

Há várias respostas, uma das quais – a mais citada – é a de que a CNA faz vista grossa para o que se passa em boa parte das federações estaduais da agricultura.

(Antes de prosseguir abordando a questão, esta coluna deixa claro que a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) – sob nova direção há pouco mais de um ano – promoveu uma revolução: renovou seus quadros de funcionários e de executivos; implementou novas diretrizes; impôs-se, do ponto de vista político, como representante dos produtores rurais; elaborou um plano estratégico que – via assistência técnica e transmissão do conhecimento pelo Senar – privilegia a qualificação de quem produz no campo; e trabalha para a modernização do setor. Perpetuação dos gestores da Faec? Nem pensar! – asseguram seus atuais dirigentes.)

Voltemos à CNA! Um exemplo sempre citado do que se passa em várias federações estaduais da agricultura é o da Faesp —a Federação da Agricultura de São Paulo, que chama atenção pelo inacreditável. E põe inacreditável nisso!

O presidente da Faesp é Fábio de Sales Meireles, que tomou posse do cargo em 1975, quando o presidente da República era o general Ernesto Geisel e quando o beatle John Lenon compunha e lançava sua obra prima – “Imagine”.  

De 1975 até hoje, Meireles vem sendo reeleito por aclamação.

Mas isso terá fim por iniciativa do próprio Fábio Meireles. Entendendo, finalmente, que a Faesp precisa de renovação, ele se prepara para transferir sua presidência para o próprio filho, como apurou esta coluna de fontes bem-informadas sobre o tema.

Mas não é somente na agricultura que prospera essa fisiológica e pelega longevidade. Durante 38 anos, Antônio Oliveira Santos foi presidente da Confederação Nacional do Comércio, da qual foi alijado somente no recente 2018.

José Zeferino Pedrozo é presidente da Federação da Agricultura de Santa Catarina há exatos 32 anos.

No Maranhão, a Federação das Indústrias é dominada há mais de 30 anos pela mesma pessoa, que também prepara o filho para herdar a presidência da principal entidade do empresariado maranhense.

Ainda não apareceu um Alexandre de Moraes capaz de pôr termo a essas privilegiadas mordomias sindicais. Em vários estados, há presidentes de sindicatos patronais que não têm empresas, mas chegam a ser remunerados por exercerem função administrativa.

Mas os leitores não devem surpreender-se, pois no lado laboral, isto é, no lado das confederações e das federações sindicais dos trabalhadores, a mesma situação acontece e, em vários casos, de modo ainda mais escandaloso, o que poderá ser ainda ampliado a partir de janeiro de 2023.