O mês de abril tem seu nome inspirado no verbo abrir (aprillis em latim) em referência a abertura das flores da primavera no hemisfério norte (aqui no hemisfério sul, estamos no outono, a estação oposta). A origem do nome é controversa e pode também estar relacionada a deusa da beleza, Vênus. Lembre-se que no mês anterior, expliquei que o nome do mês março vem do deus romano da guerra, Marte.
Na pintura, “O Nascimento de Vênus” do italiano Sandro Botticelli (1445–1510), ao nascer da espuma do mar ao abrir de uma concha, a deusa romana Vênus aparece ao centro nua. O vento do Oeste, Zéfiro, representado por um homem alado, sopra a deusa para a terra. Se você admitir que está olhando para o Norte no fundo do quadro, Zéfiro vem realmente do Oeste, segurando Cloris, a deusa da primavera da mitologia grega em meio às flores pairando sobre o ar. Ao chegar no litoral, Flora, a deusa primaveril, dessa vez, da mitologia romana cobre Vênus com um manto. Apesar de todos esses elementos relacionados à primavera, cuidado. Essa não é a obra “Primavera” do mesmo pintor florentino. Eu descreverei essa obra quando chegar a nossa verdadeira primavera.
Apesar do mês de abril ter um simbolismo clássico tão magnífico, na idade média, o mês virou sinônimo de comédia com o dia da mentira. A brincadeira de pregar peças no dia 1º de abril pode ter sido influenciada por festas como a “Hilária” da Roma antiga e “Holi” na Índia. Mas acredita-se que a maior influência tenha vindo dos franceses.
Após o Concílio de Trento em 1563, em 1564, o rei da França, Carlos IX, trocou o início do ano que era no equinócio para o dia 1º de janeiro. O equinócio já estava ocorrendo com 10 dias de atraso beirando o dia 1º de abril. Os franceses desagradados com a mudança fizeram várias sátiras em referência ao dia, incluindo o ato de falsas afirmações.
No Brasil, um jornal mineiro denominado “A mentira” estreou informando que o imperador Dom Pedro I havia falecido no dia 1º de abril de 1828, o que só ocorreu em 1934. Não faço ideia se o imperador sabia disso, não me surpreendo se soubesse.
O que poucos sabem é que existe outro dia muito mentiroso no mês de abril. Se você fizer uma busca rapidinha na internet, encontrará que hoje é o dia mundial da Astronomia. Não é. Essa data é fake e não se sabe exatamente como surgiu. Mesmo assim, vários colegas o compartilham. Não existe uma entidade internacional que reconheça tal dia. É diferente do dia internacional da mulher que é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Geralmente, um dia é decretado em alguma lei, o que não é o caso do dia 8 de abril. Há quem queira oficializar a data, eu acho que não dá certo porque não há nada de relevante para a Astronomia no dia 8 de abril, exceto algo que abordarei mais adiante. Em alguns blogs já vi uma frase paradoxal: “Dia 8 de abril é dia mundial da Astronomia, mas a data só é comemorada no Brasil”.
Como é que um dia mundial só é comemorado no Brasil? Se só é comemorado no Brasil, não pode ser mundial, seria nacional. Na verdade, já temos o dia da Astronomia comemorado dia 2 de dezembro, reconhecido nacionalmente pela Lei Federal 13.556 de 2017. Esse sim é um dia de respeito escolhido por ser a data de aniversário de Dom Pedro II, o patrono da Astronomia no País.
Falarei mais sobre a relação entre Dom Pedro II no final do ano quando a efeméride chegar. Enquanto isso, hoje pode não ser o dia mundial da Astronomia, mas tem um grande evento astronômico de repercussão mundial, “O eclipse solar mais visto de todos os tempos”. Taí uma oportunidade boa para justificar e oficializar a data internacionalmente. Para saber como ocorrerá este evento e onde acompanhar pela internet, o leitor pode conferir a minha coluna anterior disponível neste link.