A casa que habito sou eu mesma. E quero ficar em mim. Mas nem sempre e nem tanto. Mudei-me para cá, mas de tempos em tempos saio de mim mesma, entro em descaminhos a ponto de não saber onde estou, justamente para reconhecer-me, na eterna travessia-paisagem que é existir.
Toda existência é transformação ... nasce daí o experimentar-me nos tantos palcos onde a vida nos monta em espetáculos. Vivo e revivo cenas de quem fui, e sou. Quantas vezes na vida durmo ou acordo com a mesma sensação: minha pele trocou de mim. Bravo!
Essa pele-memória que guarda e conta (e canta) tanta história de quem sou.
Retalhos de minhas existências e persistência de mundo - e de detalhes também. Fragmentos montados e desmontados feito peças-tempo, tempo-coragem, coragem-destino.
Boas histórias e sonhos e delírios. Dos devaneios que tenho no peito brotam canções. Gargantas abertas. Atrevidas. A força do mundo, do início ao fim. Que se reabre e renova a ponto de nos empurrar corpo a dentro, vida afora. Estamos aqui, e também não.
Nem sempre o caminho que faço me alcança as pernas. São tantos passos corridos, constantemente à espera de estradas que se abram. Muitos se perderam, ainda assim há sol e janelas que feito molduras me emocionam mesmo tendo de cor a paisagem à vista há tantos anos do mesmo ângulo.
Não é preciso mais entender o que nos cerca, porque é muita coisa, muita gente, muita fala. Umas acolhem. Outras despertam, abrem caninhos para refúgios. Tanto que nem se sabe o quanto.
Quero ficar em mim porque o tempo da minha poesia está além da palavra. É olho, pele, riso, calçada de esquina e banho de mar. É descompasso e avesso. Por isso se recompõe e não conta destinos, não se reconhece constância, pelo contrário, mostra-se latência e dinâmicas. Entre uns e outros destinos fico e saio de mim.