O avô materno de Beatrix von Storch foi ministro de Hitler e seu avô paterno foi membro da SA; a questão, porém, não é o passado nazista dos seus avós, mas sua presente atuação política. Beatrix é vice-presidente da Alternativa para a Alemanha (AfD) e uma das principais responsáveis pela conversão desse partido, inicialmente moderado, em uma agremiação ultranacionalista, fundamentalista, xenófoba e racista da qual os liberais fugiram.
A AfD é hoje um partido populista de direita cujos membros são sistematicamente acusados de nutrir simpatias pelo nazismo. Um seu porta-voz afirmou orgulhar-se de sua ascendência ariana e declarou que imigrantes deveriam ser mortos com gás; um de seus deputados criticou a memória do holocausto e Beatrix von Storch já defendeu que guardas de fronteira atirassem em refugiados que chegassem à Alemanha.
Bia Kicis, Eduardo e Jair Bolsonaro recepcionaram calorosamente Beatrix em sua visita ao Brasil. Confrontados nas redes sociais, apresentaram a deputada alemã simplesmente como líder conservadora. Não procede. O conservadorismo é uma tendência política de centro direita que respeita as instituições e zela pela democracia. Não é o caso nem da AfD nem do bolsonarismo.
A questão não pode ser resumida à autodeclaração. O partido estabelecido na tradição conservadora, cristã e liberal da Alemanha é a CDU, da chanceler Angela Merkel, que há quase duas décadas se mantém como a mais forte, coerente e consistente referência da democracia no mundo, sendo a chanceler, seu governo e seu partido alvos preferenciais dos ataques extremistas da AfD.
A eleição de Bolsonaro se deveu, em parte, ao apoio dos que o viram como alternativa ao aparelhamento das instituições e à corrupção patrocinada pelos governos petistas e também a certos desvarios progressistas na pauta de costumes. Como alternativa, porém, o bolsonarismo passou a oferecer apenas o fisiologismo do Centrão envolto em uma miséria ideológica filonazista.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.