Pesquisadores descobrem manuscrito original de Padre Antônio Vieira

De acordo com os pesquisadores, “é a maior descoberta dos últimos quatro séculos da literatura, cultura e teologia portuguesas”

Legenda: Padre Antônio Vieira foi um dos jesuítas da Companhia de Jesus no Brasil no século 17. Passou boa parte da vida no que, hoje, é o estado do Maranhão. De lá, foi em missões ao Ceará
Foto: Reprodução

Um manuscrito original de Padre Antônio Vieira será apresentado ao público na próxima segunda-feira, 30 de maio, em Lisboa. O documento foi descoberto por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e da Universidade Gregoriana, de Roma, na Itália.

Trata-se do manuscrito perdido - até então - da Clavis Prophetarum, a Chave dos Profetas, segundo a Universidade Gregoriana. “É o projeto mais importante de Vieira, ao qual dedicou cinquenta anos da sua vida. É uma obra profética e escatológica de estilo frio e controlado em relação aos Sermões, de onde emerge a visão milenar do autor”, diz a instituição.

De acordo com os pesquisadores, “é a maior descoberta dos últimos quatro séculos da literatura, cultura e teologia portuguesas”.

Com uma vasta obra literária, Padre Antônio Vieira foi um dos jesuítas da Companhia de Jesus no Brasil no século 17. Passou boa parte da vida no que, hoje, é o estado do Maranhão. De lá, foi em missões ao Ceará. A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, em Viçosa do Ceará, teve sua fundação originada pelo padre e guarda traços dessa passagem.

Vieira ganhou notoriedade com os seus sermões e cartas, se destacou na política e ficou marcado na História como o grande defensor dos povos indígenas no período colonial.

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Outras perspectivas

Hoje, a História já traz outras perspectivas. A “defesa” dos indígenas passava pela conversão ao cristianismo. Em paralelo, o tráfico de escravos africanos era encarado como “um grande milagre de Nossa Senhora do Rosário porque, segundo ele, tirados da barbárie e do paganismo na África, os cativos teriam a graça de serem salvos pelo catolicismo no Brasil”, explica Laurentino Gomes no volume I do livro Escravidão.

Em junho de 2020, em meio a onda de protestos depois do assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, com ataques a monumentos e símbolos da escravidão em vários países, a única estátua de Padre Antônio Vieira em Lisboa foi vandalizada com tinta vermelha na cara do jesuíta e a inscrição “descoloniza”. A prefeitura limpou tudo quase que imediatamente e repudiou o ato nas redes sociais.

A estátua lisboeta traz Vieira como um salvador, empunhando uma cruz e rodeado por três crianças que remetem a características do estereótipo indígena. Uma abordagem típica do romantismo com o qual Portugal lida com o período colonial, era das grandes navegações e dos “descobrimentos”. Mas também, pudera, é um monumento tão antigo, foi inaugurado ainda em… 2017.

Em pleno século 21, os movimentos que trazem um novo olhar para a História são parte da evolução social pela qual passamos. Não é que o padre apoiava a escravidão, ou que não defendeu os indígenas, mas as reflexões sobre um passado que deixou marcas tão profundas em várias sociedades precisam ser feitas.

A apresentação do manuscrito poderá ser acompanhada ao vivo aqui.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.