A ausência de torcedores nos estádios transformou a perspectiva de uma partida de futebol. A emoção, os cantos das torcidas, as comemorações de gol deram lugar ao vazio. No campo, só a gritaria de jogadores e treinadores. A ausência do torcedor, que é a essência do futebol, faz muita falta no espetáculo, e também nos cofres dos clubes. Mais que o silêncio das arquibancadas, Ceará e Fortaleza acumulam prejuízos milionários sem torcidas nos estádios.
O levantamento realizado pelo Diário do Nordeste considera os dados oficiais dos borderôs de cada jogo, que são disponibilizados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e contemplam gastos como anti-doping; arbitragem, auxiliares e fiscais; transporte e hospedagem da arbitragem; quadro móvel (segurança, limpeza, supervisão de campo, etc); posto médico, equipe médica e ambulância e etc.
Até aqui, cada um dos times cearenses realizou 16 jogos como mandante no Campeonato Brasileiro. Não houve receita em nenhum deles, obviamente, mas os gastos não cessaram.
Custo por jogo
No caso do Alvinegro, o déficit no borderô de todos estes jogos, somados, é de 1.103.547,64. Em média, o Ceará pagou 68.971,72 para realizar cada jogo na Série A. A partida que registrou maior gasto foi a vitória por 2 a 0 sobre o Flamengo, com um resultado de R$ -77.657,34.
Já o Tricolor teve um saldo negativo pouco menor, de 1.003.950,62, ao custo de 62.746,91 por partida feita como mandante no Brasileirão. O duelo mais "caro" foi na estreia, derrota por 2 a 0 para o Athletico-PR, que teve resultado de R$ -75.131,32.
A situação seria ainda pior caso o Governo do Estado, via Secretaria do Esporte e Juventude (Sejuv), não tivesse suspendido a cobrança de aluguel da Arena Castelão desde o início da competição. Com isso, nem Ceará nem Fortaleza tiveram que pagar taxa pela utilização da praça esportiva.
Faturamento em 2019
Em 2019, Alvinegros e Tricolores tiveram os valores de bilheteria como grandes fontes de receita. No Vovô, ao longo de toda a temporada, a arrecadação foi de R$ 13.204.876,61 com bilheteria, camarotes e estacionamento. No Leão, o total de receitas neste mesmo quesito foi de R$ 11.804.831,78.
Lamentação dos dirigentes
O presidente do Ceará, Robinson de Castro, lamenta a ausência de torcedores no estádios e garante que as receitas do clube seriam consideravelmente maiores com a presença dos alvinegros nas arquibancadas.
"A gente deve ter deixado de arrecadar, até agora, uns R$ 20 milhões no matchday, que é o dia do jogo e tudo que envolve. Bilheteria, ativação com sócios-torcedores, vendas de produtos, camarotes, exploração de bares e tudo mais. É uma quantia bem considerável", diz Robinson.
A chateação é a mesma de Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.
"O prejuízo financeiro não é só o que a gente paga para jogar, mas o que a gente deixa de arrecadar em tudo que se tem no estádio em um dia de jogo. E tem um impacto direto no sócio-torcedor porque muitas pessoas cancelam o sócio pelo fato de não ter jogo"
Segundo o mandatário leonino afirma ainda que prejuízo maior que o financeiro é o esportivo.
"Um prejuízo incalculável é a falta do torcedor, em questão de ambiente. Temos três jogos importantíssimos em casa, contra Coritiba, Vasco e Bahia, e com toda a certeza, seriam três jogos com o Castelão completamente lotado. A torcida ia para apoiar e ajudar o time. Esse prejuízo é incalculável, sem considerar outros jogos que poderíamos ter resultados melhores com a torcida. Eu acho esse prejuízo até maior que o financeiro".