Recebo muitas perguntas sobre essa temática no consultório. Mães e pais, ao mesmo tempo que se preocupam em não “sexualizar” a criança - já que tudo hoje em dia está muito precoce - também se preocupam em se tornar distantes de seus filhos em relação a intimidade ou tratar essa temática como um tabu.
Mas até que ponto naturalizar essa exposição, é benéfica?
Por questão de praticidade, muitos pais optam por tomar banho com seus filhos. Esse hábito é compreensível e pode até proporcionar diversão e memórias afetivas, porém devemos ficar atentos a idade e maturidade da criança.
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Até por volta de 4 anos de idade, as crianças normalmente são alheias às diferenças anatômicas, ainda não fazem muitas comparações, por isso as partes íntimas em si não despertam tanta atenção (claro que depende de cada criança).
No geral, esses momentos com crianças pequenas, podem inclusive ajudá-las no processo de diferenciação do eu, para que a criança possa perceber que é uma pessoa, e a mãe ou o pai outra pessoa.
Porém, a medida em que ela vai amadurecendo, vai despertando a curiosidade e descobrindo seu próprio corpo, continuar com esse hábito do banho juntos pode sim despertar uma certa “sexualização”.
Nesse momento de descobertas, surgem muitos questionamentos e, comparações. Quando surgirem, os pais devem conversar sobre as diferenças entre os corpos de homens e mulheres e ir respondendo seus filhos de forma natural e tranquila.
Independentemente dos pais tomarem banho ou não com os filhos, essas dúvidas aparecem, fazem parte da curiosidade das crianças sobre o desenvolvimento. Então, é possível naturalizar, dialogar e educar sobre o assunto, mesmo sem essa exposição no banho.
À medida em que as crianças forem crescendo, tomar banho juntos com os pais despidos, pode gerar sensações desconfortáveis.
Por exemplo, vocês já pararam para pensar que durante o banho, normalmente a criança em pé fica na altura dos genitais dos pais? Isso para o campo de visão dos pequenos, pode não ser confortável.
Ademais, nesse período, de acordo com a psicanálise, inconscientemente a criança está atravessando a angústia do Complexo de Édipo. Essa fase envolve sentimentos amorosos e atração pelo genitor do sexo oposto, como também rivalidade com o genitor do mesmo sexo.
Apesar de trazer angústias para as crianças, todo esse processo é natural. Nesse momento a criança “deseja” a mãe ou pai somente para ela, então é imprescindível uma boa condução dos pais para que seja elaborado de forma saudável.
Permitir que os filhos tomem banho, durmam entre os pais, ou dar beijo na boca dos pais, sem limites estabelecidos, pode impactar na formação de sintomas. Portanto, é indicado que os pais estimulem a independência de seus filhos.
A partir dos 4 anos de idade, é muito importante ensiná-los a tomarem banhos sozinhos e cuidar do próprio corpo. Assim as crianças vão desenvolvendo a própria individualidade, bem como autonomia e os limites necessários entre pais e filhos.
É significativo também, os pais explicarem para as crianças sobre as diferenças do amor de pai e filho, mãe e filho e entre cônjujes. Deixar claro que existe o casal e que são amores diferentes.
Esse processo de explicar sobre privacidade e ir colocando os limites , para a psicanálise chama-se de “castração”, é um processo simbólico, quando a inscrição da lei é instaurada, e à medida em que cresce e se desenvolve, a criança vai internalizando as normas culturais e as regras de conduta.
A interpretação e a aplicação desses conceitos, cabe ressaltar, variam de acordo com cada indivíduo, pois o processo de desenvolvimento psicossexual é complexo e individual. Os pais devem avaliar o que é adequado e confortável para o desenvolvimento saudável dos filhos.
Temos que orientar, apoiar, mas dar espaço para que a criança ela se desenvolva sozinha. Viemos de uma sociedade onde muito foi reprimido, porém, temos que tomar cuidado em não caminhar para o outro extremo, onde “tudo pode”.
Temos que guiar nossas decisões com os filhos pensando no respeito, no equilíbrio das situações e no bom senso. Se houver dúvidas ou preocupações, buscar orientação de profissionais especializados no desenvolvimento infantil pode ajudar.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora