Em 2022, o Brasil conseguiu bater recordes sucessivos de endividamento, chegando a 68 milhões de inadimplentes em setembro passado, onde o desemprego foi apontado como principal motivo de atrasos por 29% dos entrevistados, segundo Pesquisa então divulgada pelo Serasa Experian.
Ocorre que, em tempos de dificuldades financeiras, com inflação crescente, preços reajustados e instabilidade de mercado, a organização financeira pessoal deixa de ser uma opção, para se tornar uma necessidade primária. Nesse momento, o cartão de crédito surge como uma forma de conseguir comprar o que preciso e pagar depois.
Será, então, o cartão de crédito um vilão ou um aliado para nosso equilíbrio financeiro pessoal? Você com certeza conhece alguém que está com dívidas no cartão de crédito, não é mesmo? Podendo ser até você, esta pessoa.
Veja também
Nosso poeta Cazuza afirmava que "o cartão de crédito é uma navalha", em sua música "Brasil", composta com George Israel e Nilo Romero de 1988, o que demonstra nossa difícil relação com este tipo de cartão há bastante tempo.
Sabiamente ilustrado pelo poeta, assim como a navalha pode ser utilizada em situações extremamente opostas, trazendo benefícios ou tragédias, o cartão de crédito também tem este poder.
Sempre afirmo que o cartão não é o problema, mas sim o que fazemos com ele, como utilizamos. E, mais uma vez, o comportamento que tenho com o dinheiro ou crédito determina minha vida financeira. Devemos, portanto, usar com cautela este facilitador de compras que é o cartão de crédito.
Ele não é vilão, mas pode se tornar um grande pesadelo por inúmeras razões, por isso, decidi criar várias dicas sobre a sua vida com seu cartão de crédito. Preste atenção.
É importante compreender que o limite do cartão de crédito não é uma renda adicional no seu planejamento financeiro. Se o novo cartão oferecer limite de R$ 1.000 ou R$ 10.000, sua renda mensal permanecerá inalterada. E todas as despesas com o cartão serão somadas no vencimento. Ou seja, você terá crédito, mas não terá renda mensal para quitar tanto crédito.
O ideal é estabelecer seu próprio limite de gastos, preferencialmente, dentro da regra 50-30-20, a fórmula para organizar sua vida financeira. Ela estabelece que 50% do orçamento vai para as contas essenciais; 30% para os gastos variáveis do dia a dia, supérfluos ou gastos relacionados ao estilo de vida; e 20% para pagar dívidas, poupar e investir.
Se você controlar seus gastos, a fatura mensal do cartão não será mais motivo de grandes surpresas. Não esqueça que os juros de cartão de crédito podem chegar a 300% ao ano e estão em primeiro lugar no ranking dos tipos de crédito mais caros do Brasil.
Então, quando você só paga o mínimo da fatura, você está apenas informando ao Banco ou Operadora que você está vivo e ciente das dívidas, mas que não consegue quitar tudo. Isso significa que o Banco pegará o saldo que você não pagou, fará a correção com juros e multa e somará este valor na próxima fatura.
Bem, se anteriormente você já não conseguiu pagar a totalidade, o que precisa acontecer para você pagar a fatura do mês seguinte mais o saldo corrigido do mês anterior? Você tem jogado na Mega-Sena?
Ainda que pareça cruel, preciso dizer que, se você está com dificuldades em pagar a fatura completa, precisa tomar decisões imediatas como: suspender o uso do cartão, negociar a dívida, buscar um crédito mais barato para resolver este débito caríssimo, por exemplo. Mas não deixe se tornar uma navalha que mata seu sono e seu equilíbrio emocional.
Eu nunca disse que seria fácil. Mas, acredite, é possível, é temporário e é realizador conseguir uma vida financeira mais equilibrada apenas sendo educado financeiramente.
Hoje fico por aqui e peço que você reflita sobre você e seu cartão de crédito. Em breve poderei voltar ao assunto e dar mais dicas sobre este ponto tão presente em nossas vidas e que tanto nos tortura quando não sabemos dominá-lo.
Ana Alves é economista, consultora, professora e palestrante.
Instagram: @anima.consult
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.