Experiências urbanas numa visita ao Museu da Fotografia

Legenda: Museu da Fotografia fica na Rua Frederico Borges, 545 - Varjota
Foto: Celso Oliveira

Por estes dias, fiz uma pequena experiência junto a minha filha de 14 anos. Propus visitar um lugar na cidade nunca por nós frequentado. Dito isso, haviam condições para o experimento: não poderíamos escolher shopping center (um dos seus espaços preferidos); aproveitaríamos o mapa digital de uma das mais famosas plataformas on-line para verificar as opções; e finalmente, utilizaríamos a palavra museu para concretizar a procura no mapa digital.

Depois de muito negociar, escolhemos o museu da Fotografia, localizado no bairro Varjota em Fortaleza. Pensando nos costumes digitais comuns à pessoas com 14 anos, os da geração Z, podemos acordar que foi a escolha mais adequada. Desde de sua invenção, no século XIX, a fotografia atravessa as décadas, atualiza-se, capta as imagens que marcam os tempos. Ela pertence tanto ao mundo dos analógicos, como, e mais ainda, aos usuários das redes sociais.

Dado o dia e o horário marcados, fomos ao museu. Do térreo ao terraço, as dezenas de fotos nos prenderam a atenção: rostos, paisagens, formas, sensações, sociedade, história e geografia; tudo estava lá!

A adolescente ficou encantada com o multicolorido, e da mesma forma, enxergou a beleza e a arte naquelas em escala de cinza.

Com a visita, lembramos muitos assuntos já compartilhados nessa coluna. Passamos mais tempo apreciando as fotos que elucidavam os resultados dos conflitos armados no Oriente Médio. Numa sequência de grandes imagens, o olhar de quatro meninos nos parecia tão profundo e assustado, que nos fazia questionar se ainda estariam vivos; e se sim, em que condições. Lá estavam muitos exemplares a enquadrar o horror dos urbicídios e das atrocidades do nosso tempo.

A outra fotografia a nos atrair chama-se “a menina na laje”. A enorme imagem mostra o emaranhado de construções de uma favela nos morros do Rio de Janeiro e, em primeiro plano, uma criança sobre as caixas d’água. Nesse caso duas perspectivas nos sobressaem: a primeira, o quão segregadas e apartadas são nossas cidades; e a segunda, a esperança de um país melhor está na forma como escolhemos cuidar de crianças como aquela que aparece sobre a laje.

Ao chegar ao terraço, não havia fotografias. Acho que há um propósito idealizado. Ao visitante é facultado um momento de inspiração e entusiasmo artístico. Paramos e vimos um dos quadrantes de Fortaleza, fachadas e tetos, pobreza e modernidade. E de lá, minha filha utilizou seu inseparável telefone-câmera. Motivados por aquela paisagem, usamos com intensidade os smartphones para apreender novos visuais da cidade. Quem sabe, um dia, algumas daquelas fotos vão para a exposição!

A visita ao Museu da Fotografia foi melhor do que esperávamos. Percorremos a cidade numa tarde de domingo, conhecemos um belo prédio e nos deleitamos com a arte fotográfica.

A fotografia nos trouxe uma lição: por mais que enxerguemos rupturas e diferenças geracionais, a arte e a fotografia nos ajudam a compreender os eventos históricos, as relações sociais, as afetividades e o muito que há em comum em nós.

Se você ainda não visitou o Museu da Fotografia, visite. Aproveite e convide alguem para dividir as suas impressões e sensibilidades.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.