O gigante da Gentilândia dá um tempo no futebol para ser utilizado em uma causa nobre: receber unidade hospitalar que dará esperança de recuperação a doentes do Covid-19. Mais um registro de uma praça especial, a casa do povo
O "Pvzinho de Açúcar" cativa memórias, conquistas e carinho. Aos 78 anos, deixou de ser estádio, virou patrimônio de um povo. Pulsa quase como o coração no bairro Benfica tomado pela boêmia, juventude e a ebulição do pensar. Nessa história, mudou, transformou-se, e agora vive um capítulo inédito: se metamorfosear em um hospital de campanha para atender vítimas do novo coronavírus.
A imagem até chama atenção. Sozinho, em silêncio, o Estádio Presidente Vargas (PV) assiste a dezenas de operários abrindo buracos no gramado dos craques. Tapete esse que aos poucos vira cimento, do verde se faz cinza.
A medida adotada pela Prefeitura de Fortaleza foi transformá-lo em uma unidade hospitalar com 204 leitos para atender apenas infectados com a Covid-19. Acostumado com a histeria da torcida, aos poucos, o equipamento se volta completamente a outro propósito, se aquieta e acolhe. É perceber-se disposto ao desafio de ser protagonista social. Como em 1974, ao abrigar famílias vítimas de enchentes na Capital, à época com Vicente Fialho como prefeito de Fortaleza. Tão de todos, viu do show da Xuxa ao do Padre Reginaldo Manzotti.
Grandes momentos
Aos mais velhos, relatos de touradas no estacionamento e do milésimo jogo do 'rei do futebol', Pelé, com a camisa do Santos - diga-se de passagem, com vitória do Ceará de virada por 2 a 1 pela Série A do Campeonato Brasileiro. São tempos dourados, de prestígio, multidões e muito charme, de uma praça esportiva acostumada ao sucesso.
Daqueles detalhes que apenas o PV tem, sentimento que arrebata ao chegar de pronto na arquibancada. Ter proximidade com a bola, o jogo, o campo e todos os elementos que o compõe desde 1941, data da fundação de uma das principais praças esportivas da terra alencarina.
Nova função
O papel então está bem desenhado: é palco de futebol. Mas há capacidade para se engrandecer mais uma vez e auxiliar no combate ao inimigo invisível. Seguirá como espaço de aglomerações e, para o bem coletivo, de felicidade, recuperação e conquistas.
Sem partida, o estádio substitui a dianteira e se agiganta com médicos, enfermeiros e agentes da saúde no geral, a verdadeira linha de frente do problema. A expectativa é de 500 pessoas atuando diariamente no tratamento dos enfermos.
"É buscando a melhor prática internacional, de segurança, de atendimento, de controle da infecção hospitalar, é por essa razão que a gente decidiu fazer esse hospital (no PV) e vamos entregar no prazo, dia 20 de abril, exatamente quando os infectologistas estimam que muitos vão precisar de um leito para ter a vida salva", enfatizou o prefeito Roberto Cláudio.
A mudança estrutural é premente, antes de se agravar a crise da pandemia. São tempos outros para o PV, que segue para uma partida sem precedentes: aquela em que todos vencem, unidos.
Ficam no ar as histórias, que não hão de se esvair em meio ao processo de quarentena, distanciamento social e possibilidade de contágio. O PV segue soberano no peito mundano e aguardando o calor entusiasmado dos que tanto o aclamaram antes da obra. São páginas do futuro e de reconstrução, que antecedem outras de glórias a que estamos acostumados.
O Estádio Presidente Vargas está sendo remodelado para dar lugar a um hospital de campanha que abrigará doentes da Covid-19. O Diário do Nordeste relembra fatos marcantes da história do PV.