Aglomeração em agências só vai acabar quando medidas falarem a mesma língua dos bancos: a das multas

Preocupação de autoridades, até o momento, só gerou recomendações para um atendimento seguro ao público, sem nenhuma forma de punição por descumprimento

Legenda: Pessoas amontoam-se nas portas das agências e muitas delas chegam a dormir na fila para garantir atendimento
Foto: FOTO: JOSÉ LEOMAR

Não há mais como tolerar a falta de compromisso do setor bancário com a vida dos clientes e empregados. Há mais de duas semanas as agências continuam sem ações eficientes para controlar as filas externas das agências no Ceará, levando o risco de contaminação pelo novo coronavírus a um grau impraticável para um Estado que já contabiliza mais de 200 mortes. Mas, infelizmente, enquanto as medidas não falarem a mesma lingua dos bancos, a das multas, isso não deve mudar.

Afinal, todos reconheceram a gravidade da pandemia e tiveram tempo para planejar o atendimento adequado. Estamos há um mês em condições de isolamento social, no Ceará. Alguns estados estão há mais tempo. E só há pouco mais de duas semanas o Governo Federal lançou o auxílio emergencial de R$ 600 para os trabalhadores informais, autônomos e beneficiários de programas federais.

Mas, até agora, nenhuma das instituições parece ter estabelecido medidas eficientes para evitar as aglomerações nas portas das agências.

Governo do Estado e prefeituras identificaram esta inabilidade e o risco à vida de cearenses, mas as recomendações feitas até agora não foram atendidas a contento. Os apelos do governador Camilo Santana em suas transmissões na internet e até mesmo o último decreto publicado por ele não vem surtindo efeito. As aglomerações continuam.

Enquanto um órgão competente não estabelecer uma multa, e multa cara com acréscimo por reincidênia e juros por atraso, dificilmente isto vai mudar. É língua dos bancos.

Destaque de vergonha

Responsável pelo maior volume de pagamentos sob sua tutela - além do público que já possui contas abertas, a instituição deve abrir poupanças populares para os não-bancarizados -, a Caixa se destaca com as agências de maiores aglomerações.

Relatos chegam diariamente de casos no Interior, na Região Metropolitana e em Fortaleza. Há dois dias temos notícias de cearenses dormindo nas portas das agências da Caixa, passando mais de 24h para ter um atendimento.

Ter pessoas amontoadas por mais de um dia na porta de um banco já seria absurdo em condições normais, e chega a uma proporção inadimissível na realidade que a pandemia nos impõe.

Procurado, o banco diz estar cumprindo as recomendações feitas pelo Estado. Mas, visivelmente, as medidas não funcionam.

O benefício de R$ 600 surgiu como salvação para os mais vulneráveis à crise deflagrada pela Covid-19. No entanto, nestas condições, o acesso a este dinheiro pode levar estas pessoas da fila da agência bancária à fila dos leitos de hospital.