Pesquisas com caju proporcionam preservação da espécie

Ceará se transformou em referência em experimentos com a planta e o desenvolvimento de clones que resistem a pragas, doenças e são mais produtivos

Legenda: Pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical trabalham no Banco Ativo de Germoplasma do Cajueiro
Foto: assessoria de Comunicação da Embrapa Agroindústria Tropical

A Embrapa já tem expertise nas pesquisas com cajueiro. Expertise e reconhecimento da comunidade científica internacional. Eis que novas experiências ganham destaque nos laboratórios da empresa. Pesquisas que, como é de costume no Ceará, saem das salas de ensaios para as terras férteis dos produtores de caju. Ao longo do tempo, os cajueiros vêm ganhando melhoramentos constantes. Esses melhoramentos já são visíveis nos pomares espalhados por todo território cearense onde o caju predomina como fonte de renda.
 
A ideia dos pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical é investir no aperfeiçoamento do plantio com novas tecnologias para compensar o declínio das populações espontâneas de cajueiro com a intensa ocupação das áreas de ocorrência natural das plantas. É lamentável, mas isso vem ocorrendo no estado há alguns anos e preocupa os pesquisadores.
 
Para prevenir possíveis dificuldades em um futuro não muito distante para essa tradicional cultura cearense, o Banco Ativo de Germoplasma do Cajueiro mantido pela Embrapa Agroindústria Tropical na cidade de Pacajus guarda uma parte importante da variabilidade do cajueiro. E, na prática, isso significa segurança e mais tranquilidade para o setor.
 
É importante salientar que o Bag Caju é considerado o maior e mais antigo banco de conservação de material genético de cajueiro do mundo. O banco conta com 778 acessos. Como o próprio nome sugere, o espaço consiste numa verdadeira poupança genética da planta. Poupança que será muito e extremamente útil para garantir resistência a pragas e doenças que só surgirão no futuro. Essa base genética do BAG Caju vem sendo utilizada para auxiliar no desenvolvimento de cultivares, para diferentes fins, ambientes e condições de cultivo.

A iniciativa é nobre do ponto de vista científico e necessária do ponto de vista econômico. Os pesquisadores da Embrapa defendem a tese de que todo país precisa manter seus recursos genéticos bem guardados, bem documentados, bem caracterizados. “É um tesouro, um grande patrimônio para futuras gerações de brasileiros. É uma questão de segurança alimentar, uma cultura com uma base estreita é um risco grande”, reforça a pesquisadora Ana Cecília Ribeiro de Castro, coordenadora do BAG Caju. 

Segundo a pesquisadora Ana Cecília Ribeiro de Castro, que coordena o Banco Ativo de Germoplasma do Cajueiro, não há dúvida de que ele é uma das mais importantes plantas nativas do Ceará. Mesmo aqueles que já são considerados improdutivos têm, na verdade, um grande valor histórico e cultural. Tem a razão a doutora Ana Cecília, coisa boa e bonita é ver um cajueiro gigante e se aproveitar da sua sombra dentro de uma rede estendida no fim de tarde. Coisas do sertão. Tão bom quanto se deliciar do seu fruto.

A pesquisadora salienta que os cajueiros, independente de sua idade de existência, “guardam um rico patrimônio genético”. Com o tempo e o avanço dos estudos sobre a espécie surgiram novidades como os clones de cajueiro mais produtivos. Foi uma grande oportunidade para os produtores que começaram a investir na troca em seus pomares. As novas cultivares apresentam um desempenho superior no campo atraindo mais investidores e, consequentemente, mais negócios. 

Nesse caso específico, a pesquisadora Ana Cecília Ribeiro de Castro coloca duas situações opostas. Essa troca de cultivares é bom por um lado e ruim por outro. Segundo ela, “o impacto é positivo para o negócio, mas a substituição dos pomares contribui para perda de variabilidade”. Aí entra a expertise dos cientistas que trabalham com o cajueiro na Embrapa. “Intensificamos as coletas de sementes e propágulos de cajueiro antigos, para não perder fonte de variabilidade que não foi coletada ainda”, diz Ana Cecília.

Pesquisa com o caju

Uma vez no pomar, os pesquisadores atuam na conservação dos cajueiros através dos tratos culturais com as árvores. Eles fazem o monitoramento e a catalogação das informações sobre a produção a cada safra. Um trabalho minucioso e delicado que vai pautar os próximos passos da pesquisa. Esses próximos passos acontecem dentro dos laboratórios onde são mensurados os dados sobre diferentes tamanhos, cores e sabores. A variabilidade nesses quesitos são inquestionáveis. Existem frutos bonitos, feios, grandes, pequenos, atacados por doenças, com alto teor de vitamina C, com mais travo, mais ou menos doces. Se os frutos são avaliados em laboratórios, no campo as árvores passam por estudos sobre o período de frutificação, a resistência a doenças e outros aspectos. Colhidos esses dados, a próxima fase, para manter reservas de segurança, é investir na clonagem e cultivo das plantas no campo e também em vasos. A cada safra, os pesquisadores, técnicos e bolsistas realizam um encontro onde é feito um catálogo sobre todas as informações. 

Novas plantas, novos negócios

Como dissemos no início a Embrapa já possui expertise no trato dessa cultura. A empresa já  lançou dez clones de cajueiro anão-precoce. Todos eles foram desenvolvidos em programa de melhoramento genético do cajueiro, além de um clone híbrido e de um de cajueiro comum. É importante ressaltar que os pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical alcançaram seus objetivos. Esses clones apresentam maior produtividade e resistência a doenças e pragas. Castanha e pedúnculo possuem alto potencial produtivo e, sobretudo, qualidade. Excelentes para o consumo de mesa e o processamento da polpa. 

Outra vantagem do cajueiro-anão é o pequeno porte que viabiliza a colheita manual e o consequente aproveitamento do pedúnculo (parte do caju da qual se produz o suco). Essa é, na verdade uma grande vantagem em relação aos cajueiros antigos. Nas plantas que, em muitos casos, chegam  atingir até 20 metros de altura, os frutos caem no solo e, geralmente, não podem ser aproveitados. O tamanho do cajueiro-anão facilita a vida do produtor. Ele pode se aproximar da planta e pegar o caju sem nenhum tipo de esforço. Isso possibilitou outro modelo de agronegócio, que em vez de aproveitar apenas a amêndoa, foca no aproveitamento integral da cajucultura, com a produção de sucos, doces, hambúrguer, entre outros produtos.

Produção nacional

O Brasil produziu, em 2019, 139.383 toneladas de caju. De acordo com o IBGE, mais de 90% dessa produção está localizada em três estados: Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. Em 2019, mesmo representando 35% da área plantada, o cajueiro-anão respondeu por 56% da produção de castanha de caju do estado do Ceará (IBGE, 2020).



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