Marco histórico e luta por igualdade no mercado de trabalho

Mulheres que atuam na área tecnológica no Ceará participaram de dois momentos marcantes no mês dedicado a elas

Legenda: A geóloga Jérsica Lima Bezerra é a nova presidente da Associação Profissional dos Geólogos do Ceará e atualmente atua no Consórcio Operador do projeto de Integração do Rio São Francisco
Foto: Divulgação

Demorou, mas aconteceu. A Associação Profissional dos Geólogos do Ceará empossou sua nova diretoria para o triênio 2021-2023. E pelos próximos três anos, pela primeira vez na história da APGCE, a Entidade de Classe que congrega os profissionais da área de geologia no estado será comandada por uma mulher. A geóloga Jérsica Lima Bezerra é a nova presidente.

Jérsica Lima Bezerra é graduada pelo Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará–UFC e pós graduanda em Engenharia de Geotecnia na PUC MG. Atualmente, ela atua no Consórcio Operador do projeto de Integração do Rio São Francisco – COP PISF. “Quero convidar também meus colegas geólogos que não estão ainda participando da Associação que venham agregar. Venham nos dar críticas sim, porque não? Venham dar sugestões, venham participar”, disse a nova presidente da Associação Profissional dos Geólogos do Ceará.

A posse da geóloga foi prestigiada pelo Presidente da Federação Brasileira de Geólogos – FEBRAGEO – geólogo Fábio Augusto Gomes Vieira Reis, que considerou a posse da nova diretoria um marco histórico para a geologia nacional. “Você vai ter todo o nosso apoio Jérsica, nesse momento e, realmente espero que a gente possa fazer, em conjunto, muitas parcerias”, ressaltou Fábio Reis. 

O presidente do Crea-CE, Eng. Civil Emanuel Mota, reforçou que “a geologia tem crescido em sua participação nas tomadas de decisões no Plenário do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia nos últimos anos. “Eu admiro a capacidade dos geólogos de fazer mobilizações. Através do histórico da entidade, a gente começa a entender um dos motivos, que é justamente a alternância de poder. Praticamente os geólogos não tiveram reeleições e aí você vê que esse movimento da entidade oxigena de novas ideias”, disse Emanuel. 

O geólogo Irábson Mota Cavalcante, que estava passando o cargo foi taxativo: “Uma data histórica. A primeira mulher, depois de 40 anos de existência da associação de profissionais geólogos do estado do Ceará, a assumir esse cargo”. Criada em 23 de junho de 1979, a Associação Profissional dos Geólogos do Ceará é a entidade que contribui nas discussões dos projetos e políticas de desenvolvimento do Estado do Ceará nas áreas de Recursos Minerais, Recursos Hídricos, Geotecnia, Meio Ambiente, Geotecnologia, Geodiversidade e Geoturismo.

A posse da Geóloga Jérsica Lima Bezerra, na verdade, é mais que um marco histórico. É mais um capítulo na afirmação das mulheres que atuam na área tecnológica e que continuam lutando por reconhecimento no mercado de trabalho das engenharias no Brasil. E outro passo largo nessa batalha foi dado também neste mês de março.

Comitê Gestor do Programa Mulher chega ao Ceará

O Comitê Gestor do Programa Mulher do Conselho Regional Engenharia e Agronomia do Ceará foi criado oficialmente durante a Reunião Ordinária do Plenário deste mês de março, mas os preparativos foram iniciados ainda no ano passado, na gestão interina do engenheiro de pesca, Antônio Diogo Lustosa. É uma experiência já exitosa do Sistema Confea/Crea e Mútua, em âmbito nacional, que está em vigor desde agosto de 2019, quando foi posta em prática pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. O Confea, entidade que congrega profissionais da engenharia, agronomia e geociências de todo o país, assumiu o papel de coordenador do programa que tem como objetivo articular junto às entidades de classe, sindicatos, associações e, claro, os Creas Regionais, ações que promovam o estímulo à equidade de gênero entre os profissionais da área tecnológica. A proposta é reforçar o combate à desigualdade de gênero evidenciada pelo próprio mercado de trabalho das engenharias não apenas no Ceará, mas em todo Brasil.

Aqui no Ceará, 12% do total de profissionais registrados no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia são mulheres. Dessas, 45% têm menos de 45 anos de idade. 52% delas moram em Fortaleza e 58% são engenheiras civis. “O Comitê Gestor do Programa Mulher vem agregar força à luta que as mulheres engenheiras vêm travando no mercado de trabalho já há muito tempo”, ressaltou o presidente do Crea-CE, Emanuel Mota.

O presidente do Confea, Eng. Civil Joel Krüger, explicou os motivos que levaram o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia a instituir o Comitê Gestor do Programa Mulher. “Nós procuramos estabelecer três objetivos. O primeiro objetivo é trabalhar com as mulheres profissionais para que elas ocupem cada vez mais cargos dentro do nosso sistema profissional. O segundo objetivo é discutirmos a participação das nossas profissionais mulheres no mercado de trabalho e o terceiro objetivo é a discussão transversal das mulheres na sociedade, independente de serem profissionais ou não”, disse Joel Krüger.

Diálogo com a sociedade

A Eng. Eletricista Fabyola Resende, Secretária Executiva do Programa pelo Confea, também falou sobre a iniciativa que, segundo ela, já vinha sendo amadurecida há algum tempo dentro do Confea. “O Programa do Comitê Gestor chega para dialogar tanto com os nossos entes que compõem o Sistema, que são os Creas, as entidades de classe e as instituições de ensino, quanto fora das paredes do Sistema Confea/Crea, através da Câmara dos Deputados, através da ONU Mulher e através das relações internacionais. Nós temos buscado esse amplo diálogo com toda a sociedade em geral e temos conseguido construir esse projeto”, diz Fabyola Resende.
 
No Ceará, a engenheira agrônoma, Maria Helena Araújo, ex-presidente do Sindicato dos Engenheiros no estado, foi escolhida como a representante do Comitê Gestor no Plenário do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia. Segundo ela, alguns pontos norteiam a criação do Programa como o combate a desigualdade existente entre homens e mulheres dentro do Sistema, seja na engenharia, na agronomia ou nas geociências. Dos cerca de 985 mil profissionais registrados no Sistema Confea/Crea e Mútua, em todo o Brasil, apenas 19% são mulheres. “A maioria esmagadora dos cargos, sejam eles públicos ou privados, afetos aos profissionais do Sistema é ocupada por homens. Quanto aos salários, os dados gerais revelam que os salários das mulheres nas engenharias são inferiores aos dos homens em torno de 20% a 30%”, completou a Engenheira Agrônoma.

O Comitê Gestor do Programa Mulher do Crea-CE já tem um plano de trabalho aprovado e já iniciou suas atividades. 



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