Saber o momento certo de agir pode ser decisivo para o sucesso ou fracasso de uma medida. Seja a hora de vender uma ação, de comprar um imóvel ou de pôr em prática uma política pública, é preciso frieza para analisar a situação, prever os riscos e agir na hora e na medida certa.
Há quem acredite que o pânico dos mercados em torno da pandemia do novo coronavírus é exagerada. Mas o impacto sobre os indicadores econômicos de todo o mundo mostra que a situação não é coisa passageira e que não há como se ter ideia de quanto tempo será necessário para as economias se recuperarem.
E para chegar até aqui, em meio a milhares de mortos, bolsas de valores derretidas e uma nova crise do petróleo, foi preciso uma série - fatal - de erros humanos e atrasos nas respostas dos governos para conter a crise.
O primeiro foi da China, quando autoridades de saúde da cidade de Wuhan silenciaram médicos que tentaram alertar para o surto e demoraram a notificar a nova doença para evitar constrangimentos políticos. Ao não agir agressiva e abertamente contra a situação, o governo chinês perdeu a melhor oportunidade de evitar que se tornasse uma epidemia.
Na Itália, uma série de falhas em um hospital favoreceu a disseminação da doença no país, conforme reconheceu o próprio primeiro-ministro, Giusepe Conte.
Nos Estados Unidos, houve problemas com os kits de testes norte-americanos fornecidos pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e uma denúncia de que a equipe médica que lida com pacientes infectados não recebeu o equipamento adequado.
Entre a falta de envolvimento dos governos a kits de testes defeituosos, protocolos mal aplicados, atrasos, oportunidades perdidas e pura má sorte, o vírus escapou e continua se espalhando a todo momento.
Uma sequência de erros que poderiam ter sido evitados, sendo a maior deles a omissão dos governos. Esse não é um problema para se jogar nas mãos do Ministério da Saúde. É necessária a dedicação de toda a máquina pública.
Enquanto o mundo começa a tomar medidas mais drásticas, que em muito irão impactar a atividade econômica global, no Brasil, entretanto, a postura do governo ainda é de minimizar a situação e dizer que não é tão grave assim.
Talvez com a decisão de Donald Trump, que há pouco ainda dava declarações para minimizar o problema em ano eleitoral, de suspender todos os voos entre os EUA e a Europa, o presidente brasileiro comece a perceber a gravidade da real situação.
E para salvar o que resta da economia brasileira, a solução apontada pelo ministro da Economia Paulo Guedes sobre a aprovação das reformas não seria suficiente mesmo que tramitassem na velocidade da luz, pois seus efeitos são de médio e longo prazo. O País precisa de medidas rápidas para proteger a saúde das pessoas e também para diminuir o violento impacto da crise sobre as empresas.
O Ministério da Saúde prepara um plano, mas o vírus já está aqui há semanas e já houve a confirmação de um contágio interno. A previsão é que o pico da epidemia no Rio se dê em um mês.
Claro que o surgimento de uma doença como essas pega governos de surpresa e nem sempre é possível dar uma resposta rápida e na medida certa com a informação que se tem, mas o Brasil teve a sorte de demorar a registrar contágios, dando mais tempo para que se preparasse. Mas parece não tê-la aproveitado.
É preciso que haja vontade política para prevenir - e não só remediar.