A pressão inflacionária que vem se acumulando desde o início da pandemia ainda não chegou aos fretes de saída do Ceará e de vários estados do Nordeste, revela levantamento da FreteBras. A plataforma, que faz o intermédio entre empresas e caminhoneiros autônomos, aponta uma queda de 4,8% do valor médio pago pelo frete no Estado entre fevereiro de 2020 e o mês passado, chegando a R$ 1,02 por quilômetro por eixo.
Conforme o Índice FreteBras do Preço de Frete (IFPF), o resultado do Ceará foi a terceira maior queda de preço médio no período entre estados do Nordeste, ficando atrás apenas do Piauí (-9,52%, a R$ 0,98) e da Paraíba (-7,27%, a R$ 1,12). Na região, houve alta de 1,96%, com valor médio de R$ 1,04 por quilômetro por eixo. Os dados têm base no fluxo de rotas intermediadas pela empresa.
Lei do mercado
A lei de oferta e demanda é a principal razão para que o aumento dos custos, principalmente do diesel, não tenham sido repassados, segundo explica Bruno Hacad, diretor de operações da FreteBras. "O preço basicamente é uma relação do mercado. Se uma empresa está anunciando por um preço e tem caminhoneiro topando fazer, não tem por que ela subir o valor do frete, certo? Numa lógica simples de oferta e demanda".
Segundo o diretor, ao mesmo tempo em que o volume de fretes sendo transportados a partir do Ceará caiu 14% em fevereiro, a quantidade de caminhoneiros em busca de cargas para fazer o transporte de volta cresceu quase na mesma proporção. "Que acontece com isso? A empresa não precisa anunciar frete com um preço bom, porque aqui tem muito mais caminhão", aponta Hacad.
Desequilíbrio de demanda
Essa situação reflete um cenário já histórico da região Nordeste, com mais cargas entrando que saindo pelo modal rodoviário. O diretor de operações da FreteBras comenta ainda que há muita demanda para transporte de carga por caminhões autônomos do Sudeste e Sul ao Nordeste, mas não tanto no sentido contrário.
"Por isso o caminhoneiro fala que para voltar os custos são os mesmos, o combustível para voltar é o mesmo, o almoço, a depreciação do caminhão, é tudo igual. Então por que o frete no Nordeste é mais barato? Porque já tem um monte de caminhão lá", destaca o diretor.
Adaptação à conjuntura
Esse descompasso entre os custos e os ganhos dos caminhoneiros é a principal fonte do descontentamento da categoria com a alta de insumos para a atividade, principalmente do óleo diesel, que minam seus lucros. A partir da greve de maio de 2018, que paralisou o País, a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) passou a elaborar uma tabela de frete com preços mínimos para garantir os investimentos feitos por eles.
Mas não seria uma redução do custo do diesel às contas dos cofres públicos, como a categoria pede, que resolveria o problema do setor. Pode-se discutir a política de preços adotada pela Petrobras, mas a questão do transporte rodoviário é estrutural. A logística de um país continental como o Brasil não pode ser dependente de um único modal e, desde a greve em 2018, muitas empresas já passaram a transportar cargas por via marítima, tendência que deve ser impulsionada pelo projeto BR do Mar.
O mercado vai se reorganizar. E o transporte rodoviário precisa se adaptar.