Editorial: Davos e a economia

No recente Fórum Econômico Mundial, realizado na fria cidade suíça de Davos, o Brasil "foi a bola da vez" e "voltou à moda", nas palavras de executivos. Esta constatação, provavelmente, foi causada pela tonitruante presença do ministro brasileiro da Economia, Paulo Guedes, que atraiu para si a atenção das dezenas de grandes empresários presentes ao evento, a maioria dos quais foram os próprios presidentes das megacorporações multinacionais.

O ministro brasileiro participou de vários fóruns de debate, e em cada um deles defendeu a política econômica liberal do Governo do presidente Jair Bolsonaro. A intenção era chamar investidores estrangeiros a participarem do programa de privatização do Governo Federal, que inclui oportunidades de negócios nas áreas da infraestrutura rodoviária, portuária e aeroportuária; e de serviços. Na ocasião, Guedes assegurou que, ainda neste ano, serão aprovadas pelo Congresso Nacional as reformas tributária e administrativa. A necessidade destas reestruturações é bem conhecida e cobrada pelo mercado, mas há de se lembrar que, em ano eleitoral, movimentações nestas proporções podem encontrar resistência.

Pode parecer contraditório, mas a ausência do presidente Bolsonaro no Fórum de Davos deve ter contribuído para a propagação de boas notícias sobre a economia naquele convescote de bilionários com autoridades de várias partes do mundo. Com Bolsonaro presente, o interesse dos participantes seria, certamente, concentrado nas questões ambientais, com foco na Amazônia. Não se sabe se tirar o presidente brasileiro da programação oficial do Fórum Econômico Mundial foi uma estratégia do Palácio do Planalto para evitar a prevalência dos temas ecológicos, negativos; sobre os da economia, positivos.

Em Davos, o ministro Paulo Guedes soube responder não só às inquirições de sua especialidade, mas também às ligadas ao meio ambiente. Ele foi duro na resposta ao ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, que acusou o Brasil e seu Governo de não darem à Amazônia a prioridade que merece. Guedes retorquiu, durante uma entrevista à imprensa, afirmando que os norte-americanos "destruíram suas riquezas naturais" e dizimaram "algumas etnias" - talvez se referindo ao extermínio das populações indígenas que habitavam os EUA no tempo do avanço colonizador para o Oeste do País. As nações indígenas que lá habitavam foram ceifadas pelas armas de fogo dos colonizadores europeus, imagens imortalizadas pelos estúdios de Hollywood, em dezenas de filmes.

Não há dúvida de que há um cenário otimista na economia brasileira - a inflação parece estar sob controle; os juros, baixos -, o que se reflete na queda do serviço da dívida, cuja relação com o PIB ainda é alta, e disposição de investidores nacionais e estrangeiros de investir nos grandes projetos infraestruturais.

O que falta é colocar ordem na política da casa. Atritos no Planalto, com sugestões de saída de ministro, incertezas em determinadas pastas e polêmicas distantes do interesse público: tudo isso provocou - e segue provocando - apreensão nos agentes econômicos, sempre atentos ao lugar onde querem investir. Em cenário apreensivo, a economia paralisa. Tudo de que o País não precisa.