Seca no Nordeste: há soluções

Desde o Sec. XVII já se conhecem os efeitos nocivos da seca. Isso se deve principalmente por conta do fenômeno "El Ninõ" e da posição geográfica do Polígono das Secas que castiga parte dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, onde há maior incidência dos raios solares, prejudicando sobremaneira o povo pobre que ali reside ao destruir toda sua lavoura e pecuária. Nessas circunstâncias, é natural que se instalem crises de natureza social, política e econômica na medida em que a falta de chuva afeta a vida de milhares de camponeses que, ao se verem privados do que comer e beber, sentem na pele o lado cruel da miséria, acarretando, por conseguinte, o êxodo rural para as grandes cidades. Tal fato é uma porta aberta para o aumento da criminalidade, uma vez que essas pessoas, ao chegarem nas capitais sem qualificação, não encontram emprego, restando-lhes a alternativa de pedir esmolas e morar em condições sub-humanas nas favelas, quando não enveredam pelos caminhos da marginalidade e das drogas. Pior ainda é a ausência de interesses, é a corrupção da maioria da classe política, que só se preocupa em interesses próprios, esquecendo-se do fenômeno da estiagem. Contudo, ao examinarmos situações similares que deram certo, fica evidenciado que existem soluções para tal problema, e gastando-se bem pouco. Em países com densidade pluviométrica menor que a do semiárido nordestino, a exemplo da Espanha, Israel e Catar, há produção agrícola irrigada de qualidade, havendo poços artesianos e tecnologias para dessalinização da água do mar. Fato notório é que os efeitos da estiagem causam grande impacto nas sociedades, requerendo dos governantes solução permanente e estruturante que solucione de uma vez por todas esse grave problema. Conhecimento e solução já temos, basta que sejam tomadas ações concretas e eficazes tendo como foco principal o pequeno produtor rural, objetivando minimizar os efeitos devastadores da falta d'água, privilegiando a cultura local do homem do campo para que em meio às adversidades dos fenômenos naturais possam se adaptar, interagir e aprender a conviver da melhor forma possível com as adversidades naturais. Chega, pois, de soluções paliativas! Para o debate e melhorias, apresenta-se resumida coletânea de soluções já existentes: acesso à terra e à tecnologia ao pequeno produtor; construção de açudes, cisternas e barragens; poços artesianos; abertura de poços tubulares; implementação da agricultura irrigada; investimento em "chuva sólida"; implementação de política de industrialização de modo a beneficiar matérias primas locais; dessalinização da água do mar; transposição do Rio São Francisco e barragens subterrâneas. Como se vê, soluções já temos. O que falta é vontade política.

Aguinaldo Damasceno
Servidor da Justiça Federal no Ceará