Vários causos de lobisomem ouvi, li e recontei, mas nenhum casado ou possuidor de filhos, como foi o de Aquiraz.
A narrativa é do escritor Erivaldo Façanha, no atrativo livro “História dos Cafundós”.
A inexistência de energia elétrica, no início do século passado, tornava as noites daquela cidade amedrontadoras, devido à escuridão. Quase a totalidade dos moradores recolhia-se em suas casas e as ruas ficavam sem vivalma.
Poucos se atreviam a sair na negridão noturna, fazendo-o só por circunstância imperativa e, portanto, evitando locais muito ermos.
Não bastasse o temor pelos comentários, havia pessoas idôneas que juravam ter visto o monstro apavorador. “Ninguém ousava enfrentar o lobisomem, que deixava a população em polvorosa” – registra Erivaldo.
Os aquirazenses reuniram-se e decidiram escolher Alcino Façanha, homem destemido e desassombrado, como delegado e capaz de encarar a besta fera.
Assim, o tio-avô do autor da obra, empunhando seu rifle .44 – famoso “papo-amarelo” – de igual forma ao enfrentamento a bandidos, decidiu acabar com a medonha aparição.
Quando todos iam dormir, o representante da lei, furtivamente fazia ronda, escondendo-se detrás dos troncos das frondosas e sombrias árvores, na espreita da tal assombração.
Já alta madrugada, a uma distância de aproximados cinco metros, deu-se o encontro e a ordem: “Identifique-se. Diga se é espírito ou carne, porque vou atirar”.
Ali se findou a encenação. Um importante figurão da localidade, vestindo um casacão preto, com gola de pele de animal, parecido aos usados em regiões frias, disse seu nome e pediu clemência.
Era de paz e a vestimenta estranha servia de despiste para namorar uma conhecida mulher casada, no quintal de seu lar, enquanto o marido dormia.
Depois de desmascarado, inclusive descoberto ser pai de dois filhotes com a amante, nunca mais a criatura apareceu.