O tamanho do romance

Genericamente, sempre alimentei a ideia conservadora de que o romance era o gênero literário próprio para expressar todas as dimensões da condição humana, dando conta da realidade em todos os contextos e desafios. Próprio para narrar os grandes cenários diante dos quais se desenvolvem o verdadeiro cotidiano, a vida completa e inteira dos personagens e suas contradições humanas.

Do ponto de vista da delimitação, o romance seria maior do que a novela e esta maior ainda do que o conto e a crônica, forma que pode ser até um poema. Assim, esses outros gêneros não conseguiriam compor uma idealidade universal de todos os conflitos da humanidade, personagens, divergências e situações, como no modelo "Guerra e Paz", romance cujos sujeitos em ação nascem, morrem e crescem. Será isso mesmo que acontece no atual panorama literário?

Antes de tudo, quantitativamente, existe entre editores uma tabela que admite o conto com até 7,5 mil palavras e o romance no limite de 40 mil.

Mas esses parâmetros ou essa medição objetiva pelo número de palavras variam muito. Constitui a mesma dificuldade de classificação de gênero. Certa vez, Mário de Andrade, teoricamente duvidoso em relação a essa contagem aritmética, chegou a dizer que a "curta estória" é tudo aquilo que seu autor nomeou de conto.

No fim dos anos 60, surgiram diversos movimentos de renovação literária, como a Nouvelle Vague e o novo realismo italiano, ambos muito ligados ao cinema, acrescidos a um grupos de escritores latinos americanos que não utilizavam mais esses conceitos formais. Melhor: os professores e estudiosos não podiam enquadrá-los nessa compreensão de espaço e tamanho, ou qualquer outra moldura. Como a grande maioria deles eram jornalistas ou publicitários, passaram a conceber romances diferentes, muito minimalistas, com uma linguagem de corte preciso e imagens, seguida de muita concisão, mudanças bruscas de planos narrativos e até estranheza.

Quem leu, por exemplo, "A Ostra e o Vento", estranhíssimo romance do cearense Moacir Costa Lopes; "Barra da Solidão", do jornalista Durval Aires (pai); "A Origem do Mundo", do chileno Jorge Edwards, e, mais recentemente, "A Uruguaia", do argentino Pedro Mairal, tem a sensação da narrativa de um grande romance pela riqueza de detalhes e muitos pormenores, mas a forma parece tão rápida quanto concisa, certamente devido a técnicas emprestadas do audiovisual, cinema e televisão, porém, em termos de compêndios são livrinhos, pequenos tomos que mal ultrapassam 100 páginas.

Lembro-me bem, aliás, como se fosse hoje: meu pai teve tanta dificuldade de nomear o que havia produzido em referência ao bem lançado "Os Amigos do Governador" que, não sendo um logo conto, porque havia uma humanidade dentro de sua ficção, resolveu batizá-lo de "novela-reportagem".


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