Como tirar proveito das crises
Segundo especialistas, tempos de dificuldade exigem maior consciência do orçamento e disciplina. Confira o que fazer para reduzir os prejuízos em época de dinheiro curto
Sem aviso prévio e com rápida disseminação, o novo coronavírus tem causado uma crise econômica e sanitária sem precedentes na história recente do planeta. Sendo o isolamento social a principal forma de quebrar o ciclo do contágio, milhares de orçamentos familiares estão comprometidos diante da impossibilidade total ou parcial do trabalho. O cenário é trágico e faz pensar: o que fazer, então, para tentar amenizar as consequências na vida financeira diante de uma crise?
O empresário do mercado financeiro Victor Loyola mira o lado positivo e ressalta que momentos de dificuldade são ótimas oportunidades para repensar a vida financeira e colocar as contas em ordem. Ele aponta que períodos de dificuldade são ótimos para colocar tudo no papel e entender, de fato, a real situação das finanças da família.
"Não temos a cultura de educação financeira, aqui no País. Muita gente não sabe quanto ganha e nem quanto gasta. Pode parecer besteira, mas é essencial", lembra Loyola. Tendo desbravado os débitos recorrentes, ele indica que o passo seguinte a ser tomado é classificar as despesas essenciais, como as contas de água, energia elétrica, aluguel, alimentação e saúde, e cortar tudo que puder ser cortado. "É, realmente, viver com apenas o essencial", observa.
Além de cortar os gastos chamados supérfluos, ele ainda aponta que é possível diminuir o valor das contas essenciais, como reduzir o uso de aparelhos elétricos de alto consumo, a exemplo do ar, condicionado e chuveiro elétrico, e evitar desperdiçar alimentos. O especialista explica que isso irá trazer uma folga no orçamento familiar, que permitirá à família honrar os pagamentos básicos em dia, sem aperreio.
Renegociação
Já a educadora financeira do Serasa Ensina, Joyce Carla, aponta que a renegociação das dívidas com os credores pode ajudar a aliviar o sufoco no orçamento. Ela indica que ficar atento à realização de algum feirão de renegociação é ótimas oportunidades para conseguir descontos nos juros e multas e boas condições de pagamento. "No caso do que estamos enfrentando agora, algumas concessionárias de água e energia elétrica estão adiando a cobrança das faturas e postergando o corte dos serviços. Mas é importante ficar atento às condições, se vai haver multa e juros lá na frente", alerta.
Ela ainda pontua que alguns bancos estão adiando o vencimento das faturas dos cartões de crédito. É possível entrar em contato com as instituições financeiras e saber quais são as condições para retirar, mesmo que temporariamente, esse débito do orçamento, mas sem contratar juros mais altos do que já se paga.
Ficar atento às medidas do Governo que aumentem de alguma forma a renda das famílias, como o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), pode dar algum fôlego. "Agora, vai ter também a liberação de R$ 600 para os trabalhadores informais. Então, é ficar atento a essas oportunidades e aproveitar", aconselha.
Disciplina
Joyce Carla ainda adverte que, em períodos de crise, é imprescindível que as pessoas não adquiram novas dívidas. "Se a pessoa estiver sem emprego ou com baixa demanda de serviço, no caso dos autônomos, não faz sentido contrair uma nova dívida, mesmo que uma promoção, com parcelamento em dez vezes sem juros, porque essa parcela vai se somar às que já possui e não sabe quando os ganhos vão voltar a ser integrais".
Joyce acrescenta que, nesses momentos, usar o cartão de crédito pode ser um risco, uma vez que a soma dos limites dos cartões normalmente é muito maior do que o salário. "Se a pessoa ganha R$ 10 mil e tem limite de R$ 30 mil, por exemplo, somando todos os cartões, vai perder o controle do valor das faturas utilizando o cartão para gastos diários", afirma. Ele ressalta que o ideal é o uso do cartão de crédito dentro de um limite percentual fixo da renda.
Caso todas essas medidas tenham sido feitas e a família ainda não consiga pagar os compromissos básicos, a saída é realmente fazer um empréstimo, mas sempre com muita cautela e depois de ter constatado que não há outra alternativa. "A recomendação é que a pessoa pense como fará para quitar isso no futuro, e tome um valor que não vá comprometê-la tanto amanhã", aconselha o especialista do mercado financeiro.
De acordo ele, a necessidade da prudência é para que ninguém passe de endividado para inadimplente. Por isso, a importância de se atentar às condições do empréstimo, às prestações e juros e como essa nova dívida será incorporada ao orçamento nos meses seguintes. Loyola ainda lembra que manter o nome limpo é a primeira premissa para que as pessoas consigam tomar crédito com taxas de juros mais baixas e não agravar a crise pela qual passa. "Mesmo no caso do crédito consignado privado, que já tem taxas baixas e está disponível a negativados, o nome limpo colabora para que a taxa seja a menor possível", atesta.
Joyce Carla complementa dizendo que outra medida possível de ser tomada para tirar o orçamento do sufoco é tentar complementar a renda de alguma forma, vendendo um bem ou usando uma reserva de emergência. "Mesmo de casa, como é o nosso caso durante a quarentena, é possível vender produtos pela internet, prestar serviços, gerar renda de diversas formas e complementar, mesmo que não seja integralmente, o salário perdido", indica.