Exploração do pré-sal

Meio século depois das previsões do geólogo norte-americano Walter Link sobre os recursos petrolíferos da plataforma continental brasileira, o governo começa a explorá-la em outra dimensão. Foi dado o primeiro passo para aproveitamento dessa reserva concentrada abaixo da camada de pré-sal.

O maior campo de petróleo já descoberto, até hoje, no País, o Libra está situado na bacia de Santos, tem projeção de render R$ 900 bilhões, no prazo de 30 anos, a contar do retorno efetivo programado para 2018. Levado a leilão, apenas um consórcio apresentou oferta, arrematando-o pelo valor de R$ 15 bilhões, correspondentes a um bônus, acrescido da devolução do equivalente a 41,65% do petróleo a ser produzido.

Para explorar as reservas gigantes, estimadas entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris de petróleo, serão necessários investimentos de R$ 200 bilhões ao longo dos 35 anos de concessão do campo. Quando sua produção estiver equilibrada, a maior reserva da bacia santista deverá estar produzindo 1,4 milhão de barris, por dia, equivalente a mais da metade da produção brasileira atual.

Quando presidia a Petrobras, Juracy Magalhães contratou Walter Link para pesquisar petróleo no território brasileiro. O especialista, como resultado de seu trabalho, divulgou, nos anos 60, relatório composto por quatro cartas, no qual desaconselhada investimentos na prospecção de petróleo em terra, pois os vestígios estariam no mar. À época, as cartas desencadearam intenso debate político.

Fracassadas as prospecções em terra, os investimentos foram direcionados para a exploração em águas continentais, resultando, desse esforço, antes do pré-sal, a identificação de reservas comprovadas da ordem de 15,7 bilhões de barris de petróleo. Com o gigantismo das reservas do pré-sal, o Brasil passou a figurar entre as dez maiores reservas de recursos fossilíferos do mundo.

Aquele técnico também recomendou prioridade na prospecção de petróleo no litoral de Sergipe. Agora, a diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo confirma a descoberta de oito grandes campos de reserva dessa riqueza ainda em fase de dimensionamento. Há quem arrisque dizer que a área privilegiada se estende até o litoral do Ceará.

Descoberta a existência de óleo na camada do pré-sal, em 2005, chegou a hora de sua exploração comercial e do planejamento da destinação dos recursos oriundos dessa fonte excepcional de renda. Para o leilão, planejado de modo a contar com as empresas internacionais interessadas nesse tipo de investimento, apresentou-se apenas um consórcio formado pela Petrobras, as empresas privadas Total (França) e Shell (Holanda) e duas estatais chinesas.

Na composição do consórcio, a Petrobras detém maior controle, com 40%; a Shell, com 20%; a Total, com 20% e as duas estatais chineses cada uma com 10%. A Petrobras é detentora de tecnologia capaz de explorar o óleo do pré-sal. As demais empresas trazem contribuições adicionais para transformar a operação num negócio lucrativo. O percentual de cada empresa corresponde a seu peso específico nas decisões do consórcio.

Estimava-se a participação de 40 empresas petrolíferas no leilão, mas a presença forte de estatais as inibiu. A desistência da expressiva maioria evitou o jogo comum nas concorrências do setor público, quase sempre transferindo as decisões para os tribunais. O governo festejou o primeiro leilão do pré-sal, mas a arrematação pelo ágio mínimo não correspondeu às expectativas.