Equilibrar a balança

O Ceará está em modo de combate a uma possível segunda onda da Covid-19 no Estado. Pelo menos metade dos 184 municípios cearenses está em nível de alerta alto ou altíssimo da situação epidemiológica, conforme os dados do IntegraSUS, a plataforma do Governo Estadual para acompanhamento dos números da doença, com índices de casos confirmados, taxa de letalidade e percentual de leitos UTI-Covid ocupados. 

Considerando as fases do Plano de Contingência divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado na última semana, o Ceará já passou pela Fase 1, na qual são reativados centros de operações emergenciais e reabastecidos os estoques de insumos, por exemplo; e está na Fase 2, em “estado de atenção”. O foco agora é também no bloqueio de transmissão para evitar a disseminação. É hora de ampliar a comunicação com a população e profissionais de saúde e também de alocar equipamentos e suprimentos médicos para garantir o tratamento. Tudo isso acompanhado da monitorização da taxa de ocupação de leitos. 

A próxima fase é a mais radical e à qual não se deseja chegar novamente. Na fase 3, as ações para redução da mortalidade e intensidade da pandemia são o foco. É quando se restringe as atividades econômicas e comportamentais, além do uso de barreiras sanitárias e fechamento de fronteiras. É quando se reativa os hospitais de campanha e postos de atendimento médico nas regiões de saúde, bem como a ampliação de leitos de UTI. 

É desafiador para uma gestão pública equilibrar a balança entre ações de bloqueio de transmissão e restrições rígidas, com impacto direto sobre as liberdades de ir e vir e as atividades econômicas. O decreto de fim de ano, cuja vigência se inicia amanhã, mostra o poder público tentando centrar-se em um ponto de equilíbrio. Ao mesmo tempo em que proibiu eventos sociais e corporativos, ampliou o horário do comércio, para funcionar das 9h às 23h, e alargou a capacidade da rede hoteleira de 60% para 80%, ambas atividades com as devidas regras sanitárias a serem obedecidas. 

Um levantamento feito pelo Sindicato das Empresas Organizadoras de Eventos e Afins do Ceará, o Sindieventos-CE, mostra que, no primeiro semestre de 2020, cancelamentos e adiamentos de eventos resultaram na perda de R$ 173 milhões em receita, além da perda de 14 mil empregos diretos e indiretos. 

Enquanto preocupam os prejuízos financeiros e o desemprego, assusta também o crescimento dos índices de novos casos e de mortes pela Covid-19. Além dos novos, há pelo menos 183 casos de reinfecção sob análise no Ceará. 
Um cenário que requer toda atenção e, acima de tudo, compromisso da população. Recuar da atual fase 2 é dever de todos, mas é difícil acreditar em um comprometimento efetivo quando o que se tem notícia é de aglomerações em centros comerciais e de festas com centenas de pessoas tendo de ser dispersadas por agentes da Polícia Militar. 

O Ceará passa por um aumento persistente de casos. À medida que o vírus atinge os mais jovens, começa a refletir na mortalidade entre os mais idosos. O período de festividades, no qual se celebra a vida e a oportunidade de viver mais um ano vindouro, é também o de entender a importância de preservar a boa saúde e a integridade das pessoas. 


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