Que futuro próximo aguarda o transporte aéreo de passageiros no Brasil e no mundo? Esta pergunta surge diante de uma constatação que se registra nos aeroportos de todos os países: o passageiro sumiu. A pandemia do coronavírus, que agora se mostra com uma nova cepa já detectada na Europa, nos Estados Unidos e até na Oceania, causou estrago profundo na economia do planeta, porém, a cadeia produtiva mais duramente castigada foi, inegavelmente, a do turismo e, mais especificamente, os setores da aviação comercial e da hotelaria. A Boeing, uma das três maiores fabricantes de aeronaves (as outras são a europeia Airbus e a brasileira Embraer) que, antes da crise sanitária, havia sido seriamente abalada por dois trágicos desastres do seu mais novo produto — o modelo 737 MAX — o que fez desabar suas ações no mercado financeiro, acaba de tomar a decisão de transferir a produção do seu modelo 787 Dreamliner da cidade de Everett, no Estado de Washington, para Charleston, na Carolina do Sul. Decidiu, ainda, reduzir de seis para cinco o número de unidades a serem produzidas mensalmente.
O objetivo da Boeing é reduzir custos e tirar proveito dos incentivos fiscais. Na Europa, a extensão da crise da aviação comercial pode ser vista na situação da TAP, que, novamente estatal, terá de receber, para continuar voando, uma ajuda imediata de 970 milhões de euros do Governo de Portugal e, ao longo de 2021 e 2022, mais 2,2 bilhões de euros financiados pela União Europeia.
Toda a malha de voos da TAP está sendo revista, ao mesmo tempo em que sua frota, que chegou a 114 aeronaves, está sendo reduzida para 102. Neste momento, Lisboa, capital de Portugal, vive outro lockdown que atinge sua elogiada rede hoteleira, agora quase sem hóspedes estrangeiros. No Brasil, a crise persiste, embora tenha sido reduzida na alta estação turística — os voos de São Paulo para Jericoacoara, por exemplo, foram retomados, mas com perspectiva de que serão suspensos novamente quando acabar o período de férias.
Em vários aeroportos, é possível ver dezenas de aviões estacionados e inativados por falta de passageiros. Os voos internacionais também foram reduzidos e isto contribuiu para o agravamento do problema. As administradoras dos aeroportos, como a alemã Fraport, que tem a gestão de Fortaleza, obtiveram, logo no início da crise pandêmica, a redução dos valores dos seus contratos com a Anac, uma providência que as livrou de um prejuízo ainda maior.
Mas, como consequência da crise, tem sido difícil alugar os espaços comerciais dos terminais de passageiros, pois, sem clientes, suas praças de alimentação e suas lojas tornaram-se negócios de complicada viabilidade. Diante de um cenário que, sob o ponto de vista de hoje, só será desanuviado com a vacinação em massa da população mundial, algo que consumirá todo o próximo ano de 2021, teme-se que a persistência da crise no turismo, que é planetária, leve à falência empresas aéreas e seus milhares de empregos, o que terá repercussão instantânea no restante da cadeia produtiva — hotéis, agências de viagens aéreas, companhias de cruzeiro marítimo, bares restaurantes, turismo religioso e ecológico, etc. A esperança, pois, não está mais na ciência, que já descobriu e produz a vacina, mas nos governos.