Editorial: Recuperação oportuna

A indústria e o comércio no Ceará já têm algum espaço para respirar, mesmo diante dos desafios para a atividade econômica seguir em meio à pandemia. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sinalizaram que a produção industrial local cresceu 39,2%, e o desempenho comercial teve ascensão de 36,1% em junho, em relação a maio deste ano.

Embora a fase 1 da retomada da economia no Estado tenha recebido algumas críticas, quanto às determinações do Governo do Ceará em liberar as indústrias com capacidade de produção reduzida, os números comprovam que, dentro dos termos acordados entre iniciativa privada e poder público, o crescimento se consolidou. Como se tem acompanhado, os efeitos sanitários também estão dentro do almejado pelas autoridades. A redução do número de casos foi fundamental para que o plano de retomada não precisasse ser interrompido ou mesmo regredido em suas fases previstas.

A reação da indústria cearense foi a segunda mais incisiva do País, e só ficou atrás do Amazonas (65,7%). A retomada vislumbra que o setor produtivo poderá reativar empregos e, inclusive, criar novos postos de trabalho, caso haja um equilíbrio entre o ritmo da reabertura - em processo do início de junho até aqui - e o respeito às normas de prevenção ao contágio da Covid-19.

É pertinente rememorar que a paralisação das atividades econômicas no Estado foi acompanhada por uma onda severa de contaminações. Portanto, o entrosamento entre agentes da indústria, do comércio e as autoridades de saúde, ainda se faz necessário, em um cenário que envolve mais de 8 mil mortes e cerca de 192 mil pacientes infectados.

Embora a situação na capital cearense tenha melhorado, vale lembrar que, no início da pandemia no Brasil, os números do contágio no Ceará avançaram a passos largos. Guardadas as proporções de cada território e de suas populações, o Estado integrou um quadro alarmante ao lado do Rio de Janeiro e São Paulo. Agora, a pandemia ainda dá sinais de avanço pelo interior, mas com o Estado melhor equipado para responder ao desafio. A Grande Fortaleza, por ora, respira. Mas o cenário ainda requer cuidados e disciplina de todos.

As projeções para a indústria local seguir avançando contam, no debate, com o processo da reforma tributária, recém-proposta pelo Ministério da Economia, a melhoria nos ambientes de negócios, e a "desburocratização" para facilitar a vida das empresas. Chama atenção, no entanto, dentro do cenário econômico, qualquer discurso que desconsidere o equilíbrio necessário para que o consumidor tenha como sair de casa sem risco de contrair Covid-19. Se a contenção da pandemia for ignorada, a economia não tem como fazer projeções mais confiáveis.

Enquanto isso, o noticiário a respeito do progresso das vacinas para conter o coronavírus é animador, por conta do empenho científico em encontrar solução para, em primeiro lugar, garantir a vida. Mas preocupa, em outra direção, quando se percebe que essa corrida ganhou sérios apelos políticos, o que dificulta a validação da produção de um antígeno que precisa ser bem testado, etapa por etapa, para de fato impulsionar saúde e economia - sem a ilusão de que ambos correm separados.


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