Editorial: O ano da reabertura

Das promessas de Ano Novo feitas para o Ceará, merece particular atenção e acompanhamento aquela que trata do futuro da Biblioteca Pública Estadual Governador Menezes Pimentel. O Governo do Estado projeta a reabertura do equipamento cultural, o mais antigo daqueles destinados à cultura no Ceará, para o primeiro semestre deste ano. A data exata não foi divulgada.

O próximo mês de abril, no entanto, marca o sexto aniversário do fechamento do espaço, para que pudesse passar por necessários trabalhos de reforma e de readequação a necessidades contemporâneas das bibliotecas. Apesar de terem já sido há muito concluídos, não foram suficientes para deixar o equipamento apto a voltar às suas atividades. Seria oportuno que, até lá, se soubesse dos rumos da Menezes Pimentel, para que esse "aniversário" não passasse sob o silêncio e a indefinição, como os cinco anteriores.

Vale salientar que o fechamento temporário da Biblioteca Menezes Pimentel foi necessário, dada a existência de problemas estruturais que não podiam ser ignorados. Infiltrações, problemas de ventilação e a pouca acessibilidade tornavam o local pouco atrativo para o público e inadequado para a conservação de seu acervo. Em especial, necessitam de cuidado adicional os 10 livros do setor de obras raras e 80 mil exemplares de jornais pertencentes à coleção da hemeroteca local. Ademais, as transformações pelas quais o hábito de ler tem passado ajudaram a reconfigurar bibliotecas mundo afora. A estadual que se projetou é uma encarnação atualizada, necessária ao tempo presente.

Neste hiato, parte de seu acervo foi transferido e disponibilizado em instalações que outrora pertenceram à Rede Ferroviária Federal (RFFSA), próxima à Estação João Felipe, no Centro de Fortaleza. A sede provisória cumpre papel louvável, mas não oferta a experiência nem o acervo integrais da Menezes Pimentel a seus frequentadores.

Criada em 1867, ainda como biblioteca provincial e servindo, também, de arquivo público, a instituição foi transferida para o prédio que aguarda reabertura em 1975. Há duas décadas, o espaço ganhou a companhia do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. O projeto de reforma da Menezes Pimentel, ainda em curso, prevê a integração arquitetônica destes dois polos culturais.

A despeito das transformações no mundo do livro, que alimentam previsões apocalípticas para o formato, as bibliotecas mundo afora seguem valorizadas como importantes pilares civilizatórios. Engana-se quem as tome por um sinônimo de espaço físico para acomodação de obras impressas. Ao longo da história, transformaram-se os livros e, com eles, as bibliotecas.

Espaços do gênero demandam um espírito de constante reinvenção, de forma a promover a leitura e o conhecimento, a partir de uma pluralidade de meios, de forma a enriquecer a experiência de seus frequentadores.

Bibliotecas são guardiãs do conhecimento e da cultura, missão nobre e fundamental para a sociedade, que tem sua importância ressaltada em tempos de avanço da ignorância e do preconceito. Que tão logo quanto possível, a promessa de Ano Novo para a Menezes Pimentel se concretize. O Ceará agradece.