Editorial: Covid-19 e a solidariedade

Solidariedade é um conceito básico para se explicar o funcionamento da vida em sociedade. É o elemento mesmo que garante a coesão social. A palavra, por vezes, é compreendida de forma equivocada, quase como um sinônimo de caridade e de desprendimento. Seu sentido é mais complexo, referindo-se ao compromisso assumido pelas pessoas de obrigarem-se umas às outras, e cada uma delas com o todo. 

Para que esta relação seja possível, é necessário o reconhecimento de algo de si no outro, a semelhança, e o compartilhamento de valores. A solidariedade é, assim, um vínculo social ético, por excelência, implica empatia, respeito e senso de responsabilidade. É esse compromisso fundante da vida social que precisa ser evocado e reafirmado em momentos de crise. 

É de grandes proporções a crise que foi motivada pela pandemia do novo coronavírus, que vem se expandindo desde o início de dezembro. Seus efeitos se projetam sobre o mundo, com a multiplicação de doentes, que enfrentam uma enfermidade cujas consequências ainda não são de todo conhecidas; com mortes decorrentes dos casos mais graves da infecção; e com impactos sobre a economia, tanto pelas incertezas para o mercado, quanto pelos efeitos da necessária restrição de contatos sociais e aglomerações públicas.

O Brasil não está entre os países mais atingidos pela Covid-19, e os primeiros casos da doença no Ceará só foram confirmados no fim de semana. Contudo, a lição internacional que se tira do confronto à pandemia é a de que países que responderam de forma mais ágil e assertiva conseguiram freá-la com eficiência. A China, onde primeiro se identificou casos da doença, já ensaia a retomada de suas atividades cotidianas.

Não é o caso de se insuflar pânico, mas exatamente tomar a direção oposta. Traçar planos de ação, pô-los em prática sem demora, informar sobre a doença e seus riscos e orientar de forma precisa sobre tratamentos e formas de evitar o contágio: atuar nessas frentes é a maneira esperada de administração pública reafirmar sua missão. São respostas condizentes com a solidariedade, como visto, fundamental para a coesão social.

O compromisso com o outro precisa ser assumido por cada um dos cidadãos. A despeito de filiações ideológicas e da compreensão do papel do Estado, é imprescindível que todos aqueles que integram uma comunidade ajudem de forma responsável o próximo. 

Não é admissível que se adote atitudes displicentes, como a de se expor desnecessariamente, sob a alegação de não se fazer parte de grupos de risco. Contágios de doenças infecciosas podem se dar em ordem geométrica, quando não controlados a tempo. É difícil pensar em alguém que não tenha qualquer contato com quem figure nos grupos mais fragilizados: idosos, diabéticos, hipertensos, pessoas com problemas no coração, asmáticos, fumantes e doentes renais. O nível de letalidade do Covid-19 aumenta quando associado a estes fatores de risco para a doença.

É oportuno a adoção imediata de medidas como a de higienizar as mãos e os ambientes, observar casos suspeitos de virose e evitar circulações que podem ser evitadas. Coesão e solidariedade, afinal, são fundamentais para o enfrentamento de qualquer crise.